Realizar conversa antes de: ver topo da embalagem
A minha mãe sempre me disse: honestidade e não pensar demasiado em coisas que realmente não têm assim tanta importância. Equilíbrio, diz ela sempre com aquele ar tão descontraído, sem tirar os olhos do Amor Maior porque afinal, é só equilíbrio, Marta. Nada demais.
Ela também costumava dizer que, às vezes, sou capaz de dramatizar um bocado. O meu namorado, apesar de não o dizer, também tenho a certeza que o pensa de vez em quanto - mas vá, menos de uma vez por mês, foi esse um dos goals pessoais que estabeleci.
Há uns tempo atrás, quando ouvia alguém dizer isso de mim, ficava toda chateada, vinha para casa ter uma conversa com o espelho e punha-me lá a ralhar: "Devem estar loucos. Eu? Dramatizar? Deviam conhecer *inserir nome de outra pessoa que eu esteja a gostar de não gostar nessa altura* e aí sim, iam ver o que é dramatizar." Hoje, para meu bem e de todos os que me rodeiam, sou capaz de reconhecer esse pequeno handicap que tenho. Há alguns bons meses para cá que ando a tentar trabalhar nisso, e consequentemente, na ansiedade. Faziam-me ou diziam-me 8 e eu vinha para casa pensar naquilo enquanto comia, enquanto tomava duche, antes de dormir, e no dia a seguir, esse 8 já era um 80. Francamente, acho que tenho feito um bom trabalho. No entanto, vamos lá ter calma, que isto não se resolve assim do dia para a noite.
Dentro da temática "Dramaqueen" há um tópico que às vezes me faz ter uma recaída, ou - como lhes chamo - um amoque. Esse tópico é o timing certo para ter uma conversa, calma e honesta, sobre algo que me deixou desconfortável, numa tentativa de me fazer sentir melhor. Sem dramas, só ser honesta e resolver o que possa haver para ser resolvido - o tal equilíbrio que na voz da minha mãe parece tão fácil.
No entanto, para mim, essas conversas são como uma caixa de donuts - têm um prazo de validade muito curto. Sou muito adepta destas conversas, mesmo que elas sejam apenas uma forma disfarçada de eu continuar a dar importância a todos os pormenores. No entanto, esse prazo curto em que as conversas podem e devem acontecer ajuda-me a pôr a situação desconfortável - vamos chamar assim - para trás das costas. Objecitvo: reconhecer que, se não precisei MESMO de conversar dentro do prazo, então é porque não era assim tão importante.
Ontem, já depois do prazo para uma conversa dessas ter terminado, estava no banho a pensar: "mas também, para que querias essa conversa afinal? Para ouvir um pedido de desculpa? Já ouviste. Para não te sentires tão mal? Também já te disseram que não tens razão para isso. Então, para quê?". Percebem o meu problema? Se deixei passar o prazo, porque é que ainda me fico a questionar sobre algo que já passou, e se resolveu? - atenção, resolveu-se na minha cabeça, porque na dos outros, nunca foi algo, logo para começar. E atenção outra vez: eu sei perfeitamente que neste caso, quem está mal sou eu e não os outros.
Esta coisa de, como dizem os americanos, put things into perspective e reconhecer o que realmente é importante, para o bem e para o mal, é mais difícil do que parece. É coisa de adulto, credo. Mas vá, equilibrio Marta. Estás a portar-te bem.
Mas escrevi sobre isto. Estou a dar demasiada importância? Porra!
Pensar demasiado é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.