Sem spoilers #1 - Fragmentado

 Ontem fui ao cinema ver "Split" ou em português "Fragmentado". Confesso que, apesar do trailer me ter deixado bastante intrigada, esta não era a minha primeira opção. Como consumidora ávida de cinema, acho uma autêntica vergonha que, da lista dos nomeados para os Óscares, ainda só tenha visto o "La La Land" - filme esse que, apesar de ter achado simplesmente maravilhoso, decidi não escrever aqui sobre ele porque o que a blogosfera tem mais são opiniões sobre o filme. 

O plano de ontem era ver "Silêncio". Há uns dias, li uma crónica de Samuel Úria - aqui - que veio cimentar ainda mais a minha vontade de ver o último filme de Scorcese, sobretudo porque há muito que este realizador parece ter estagnado - não fazendo nem algo muito mau, nem algo muito bom. Por essa razão, e por ser um dos nomeados da próxima edição dos Óscares, queria muito ver este filme.

Mas, meus caros, atrasei-me. É verdade, trágico. Por isso, fui ver o segundo filme que mais curiosidade me causava: "Fragmentado", de Night Shyamalan - e que escolha!

Confesso que quando li "Terror" no bilhete - e visto que ia sozinha - fiquei um pouco apreensiva porque então esta seria a primeira vez que iria ver um filme do género ao cinema. Felizmente, as minhas suspeitas confirmaram-se e - apesar de algumas cenas de suspense, capazes de fazer toda a sala saltar dos assentos - o filme cabe muito melhor na categoria de thriller do que em qualquer outra. 

Falemos do óbvio: James McAvoy no seu papel brilhante, representando um homem que alberga 23 personalidades diferentes no seu próprio corpo. No ecrã, vemos o ator interpretar apenas algumas delas, o que não deixa de impressionar qualquer espectador com a sua versatilidade, sobretudo quando temos o prazer - é mesmo esta a palavra - de o ver mudar de alter-ego em frente aos nossos olhos. McAvoy interpreta um estilista homossexual, um vilão (de sotaque americano), uma mulher (de sotaque britânico) e uma criança de nove anos. De personalidade para personalidade, o protagonista revela uma capacidade incrível de prender o espectador, de tal forma que me cheguei mesmo a esquecer que estava a ver um filme com pouco mais de quatro atores. 

Fora este papel brilhante, acho que a premissa que está por detrás do filme não deixa de ser fascinante. Este é um filme que, ao chamar a atenção para esta doença do foro psicológico, levanta uma questão no mínimo interessante: será que, para atingir o seu potêncial total, o cérebro humano tem que passar por um grande trauma? Não serão estas pessoas, estes doentes, que se encontram mais próximos daquilo que identificamos como sobrenatural?

Ao longo do filme, estas teses vão sendo acompanhadas com dados que - para alguém sem qualquer tipo de conhecimento sobre este tipo de doenças - deixam cair qualquer queixo. A capacidade de mudar de personalidade pela força do pensamento, uma mulher que tira apontamentos sobre assuntos diferentes, com ambas as mãos, com caligrafias diferentes, ao mesmo tempo são apenas alguns dos exemplos que mais me fizeram refletir sobre o que acabara de ver, depois de sair da sala de cinema. 

"Fragmentado" é mais do que um thriller sobre jovens em cativeiro e histórias de abuso: é uma história que poderia muito bem ser verídica - tirando o fim mais hollywoodesco do qual não gostei particularmente - e por isso, é um ótimo instrumento para chamar a atenção para uma doença que ainda causa tanta controvérsia. 

Não é um filme excelente, mas é sem dúvida um filme capaz de fomentar o diálogo em torno de uma temática que não só é importante como também atual. 

7/10

Cinema é (Sinónimo de) Carmezim. 

Marta.