Sem Spoilers #2 - Manchester By The Sea
Ontem foi dia de ver "Manchester By The Sea", de Kenneth Lonergan, nomeado para seis Óscares da Academia - entre eles, melhor filme e melhor ator principal.
Mais uma vez, esta não era a minha primeira opção - essa seria "Fences", porque estou mesmo interessada em ver o desempenho de Denzel Washington. No entanto, problemas técnicos estavam a fazer-me perder a cabeça com "Fences e então fui para o segundo da minha lista - "Manchester By The Sea".
Não sabia nada do filme. Não tinha visto um trailer, não tinha lido uma crítica e nem sequer a sinopse mas bastaram poucos minutos a ver o filme para me aperceber que ia passar as próximas duas horas e meia a ver algo a que eu chamo "o típico filme de Óscares".
O filme é lento e isso é algo de que o espectador se apercebe rapidamente. O realizador vai alternando a ação principal com flashbacks da vida de Joe, Lee e Patrick - dois irmãos e o sobrinho - que nos vão mostrando o porquê da vida ter tomado o curso que tomou e com que nos deparamos quando o filme começa.
No entanto, é um filme que requer que o espectador esteja extremamente atento e interessado para perceber do que é feito este filme. A sua lentidão e mesmo a sua falta de um climax podem fazer com que muita gente desista de ver este filme sem sequer ter chegado a meio.
"Manchester By The Sea" - com o papel brilhante de Affleck, infinitamente melhor ator do que o irmão - é um filme sobre medo. O medo da morte, o medo de si mesmo, o medo de ficar sozinho e o medo de deixar os outros entrar depois de um grande trauma. Em certos momentos - e foi nesses momentos que me apercebi que estava a ver um ótimo papel a ser interpretado - apercebi-me que aquilo poderia ser a vida de qualquer pessoa, se tamanhos azares lhe batessem à porta. Os atores parecem esquecer as câmaras, e já não mais Affleck ou Hedges: há o confuso jovem Patrick e o seu torturado tio, Lee.
Lee é a personagem de Affleck e é das personagens mais torturadas com quem me tenho cruzado ultimamente. Em duas horas e meia de filme, são poucos os momentos em que o protagonista não está presente, sempre com um sofrimento demasiado grande para ser escondido. Fugiu da sua terra natal - aquela de que nos fala o título do filme - para fugir de si mesmo e dos seus demónios, e quando se vê forçado a voltar, as lutas de bares que provoca tão constantemente parecem servir para perpétuar o castigo que ele acha que merece.
Na ausência de um climax à moda de Hollywood, temos a banda sonora que apesar de não se fazer ouvir muitas vezes, quando aparece, é ela que faz o coração do espectador bater um pouco mais rápido, nas cenas mais trágicas e chocantes do filme.
Este filme é tão real, é tão sentido - e tão pouco hollywoodesco, sem efeitos e grandes finais - que o próprio final é quase nada conclusivo e muito menos faz com que o espectador saia da sala com a sensação de luz ao fundo do túnel para as personagens. Às vezes é mesmo assim. Tem que se ir devagar, fazendo sacrifícios e tentando aceitar a vida que nos foi dada - mas, às vezes, essa luz ao fundo do túnel ainda parece distante. "Manchester By The Sea" é sobre um desses momentos na vida, demasiado marcada pela tragédia.
7.5/10
Cinema é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.