Baby Carmezim, uma miúda engraçada #1
Há uns dias mencionei como todos cá em casa temos pena de eu não ter nascido numa altura em que já toda a gente tinha internet, ou mesmo um computador. Hoje em dia sou a maior fã de famílias online, quer seja por aqui nos blogs ou mesmo no YouTube. Ver os miúdos a crescer, ter a sensação que também os acompanhamos e assistir às suas malandrices, são das coisas que hoje em dia mais gosto de fazer. Experimentem a ver um vídeo desses depois de um dia mesmo chato.
Eu também era engraçada. Quando era pequenina, sempre quis ser crescida o mais rápido possível. Queria cozinhar como a minha mãe, queria namorar como o meu irmão, queria ter a minha casa como a minha avó, queria ter uma uma oficina como o meu avô, queria ter um carro como o meu pai e queria andar na escola dos crescidos como a minha prima Cathy - até o nome dela eu queria ter, achava tão giro! Por todas estas razões, lembro-me de ser extremamente atenta a tudo o que eles faziam e diziam. A parte engraçada, era quando tentava reproduzir.
Isto bem pensado, dava um grande canal de YouTube, tenho para mim. Mesmo não tendo isso acontecido, a minha mãe não deixou que essas tolices minhas caíssem no esquecimento e escreveu-as todas. Em papel, à mão, tenho grande parte de pequenos pormenores que deram origem à pessoa que sou hoje, e adoro ler cada linha. Nada está romantizado, muitas vezes até são apenas listas de pontos com as coisas que fiz ou disse nesse dia, mas não perde a piada nem fofura por isso.
Mesmo que seja com vinte e um anos de atraso, quis aproveitar este meu cantinho para partilhar algumas das coisas que a minha mãe certamente escreveria no cantinho dela, caso o tivesse tido.
"Três de Julho de 1997 - ano e meio:
A Marta levantou-se de manhã e pensou que não estava ninguém em casa. O Tiago (o meu irmão mais velho) estava a dormir. Quando a minha mãe (a avó Rosalina) foi lá a casa, a televisão estava ligada e a Marta andava de tricíclo pela casa. No sofá estavam o meu roupão e a colcha da caminha dela.
Ontem fomos à Feira de S. Pedro. Enquanto passeavamos, a Marta - toda empertigada - ia à frente e dizia:
- A Marta está a ver!
Fazia barulho com a garganta para depois dizer:
- Desculpe, com chenxa! - que é como quem tenta pedir um "com licença" muito adulto.
Pelo caminho de volta para casa, no carro, veio a cantar o coro inteiro da Marcha da Azueira - marcha em que a minha mãe cantava e o meu pai marchava, na localidade em que sempre vivemos.
Quando chegámos a casa, a Marta foi logo brincar, fingindo que estava a fazer comida para as bonecas. Cortava pedacinhos de folhas das flores que ia apanhar à rua, punha num tachinho e fingia que punha o fogão a aquecer.
Vinte e seis de Setembro de 97 - dois anos:
Quando chega a noite, a Marta vai para o meu quarto, abre a gaveta que tem os meus lenços de pôr ao pescoço e começa a colocá-los. Quando encontra um de que gosta mais, olha para mim e diz:
- A Marta bonita!
Quando lhe chamamos de "Barriguda" ela empertiga-se e diz:
- Não chama barriguda!
- Então como te chamas?
- Marta!
- Marta quê?
- Marta Zim Çalves!
Ainda não faz xixi no bacio. Quando tem vontade, corre para o primeiro cantinho que encontra, agacha-se e ali fica a fazer o que tem que ser feito.
Reconhece todos os programas e anúncios da televisão e sabe distinguir os logotipos de cada canal. Adora ervilhas, grão, maionese e feijão-verde. Prefere o peixe à carne.
Tem pavor da maca para onde tem que subir para se despir, quando vamos ao pediatra. Começa a gritar:
- A Marta tem medo da cama!!!
Quando quer pedir alguma coisa, faz carinha de anjinho e diz:
- Óh mãe, deixa a Martinhaaaa....."
Bem-vinda à blogosfera, Mãe! Hoje o meu cantinho foi todo teu!
Ser espirituosa é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.