Sabem quando têm uma quantidade estúpida de coisas na cabeça e outras tantas coisas para fazer e parece que ninguém vos deixa? Sabem quando, se calhar, não são assim tantas coisas, mas começam a stressar tanto que parece que essa lista aumenta realmente? É como me sinto hoje.
Esta foi uma semana em que a minha ansiedade andou, de vez em quando, a dar o ar de sua graça. Sendo que nunca o fez de forma demasiado óbvia - algo que me deu imenso jeito, porque agora a trabalhar, isso seria, no mínimo, embaraçoso - a verdade é que a fui sentindo levemente. Tentei ao máximo abstrair-me dessas preocupações e fazer o meu dia a dia normalmente, como se nada fosse. Hoje acordei muito bem, comecei a trabalhar muito bem, mas agora a coisa está realmente complicada.
Tal como todos vocês já sabem - foram tantos os posts em que me queixei disto -, tenho que andar em autocarros da carris nos dias em que vou trabalhar. Tal como partilhei com vocês também, a minha adaptação à nova rotina do estudar e ter o estágio foi um bocadinho complicada para o meu sistema nervoso, sobretudo por causa do tempo. Acho que nunca consegui chegar a horas, aquele verdadeiro a horas que eu tanto tento perseguir - mas que me foge sempre. Ou estou lá uma hora antes, ou quinze minutos depois. Já fez mês e meio que lá estou e percebi que tinha que me mentalizar disto.
Felizmente, tenho a sorte de trabalhar num sitio onde compreendem que não moro ali ao lado e desde o primeiro dia que me deixam mais do que à vontade para não andar com esses stresses. Eu no fundo ainda os tenho, mas estão mais controlados porque é uma coisa que foge realmente ao meu controlo. Comecei a preocupar-me mais com o ser o mais produtiva possível quando lá estou, e na realidade, é isso que importa.
... e a comer saladas de milho todos os dias porque acho que não preciso de mais provas para saber que vou ser uma mãe galinha. Independentemente do tempo que falte para ter filhos acho que não há nada que possa ser feito para evitar esse facto. É melhor só aceitá-lo sem fazer grande chinfrim.
Sou uma pessoa um pouco stressada, mas apenas com coisas que acho mesmo importantes. Se me perguntarem se vou para a faculdade a pensar na cama que ficou por fazer, não vou. Mas no que toca a prazos, trabalhos e coisas do géneros consigo ser a mestre do stress - às vezes tendo mesmo tudo controlado. Tudo isto acontece também quando se trata de algo relacionado com as minhas pessoas importantes.
Bem, hoje custou-me tanto a levantar da cama que vocês nem imaginam. Adormeci no ombro do Rapaz em três segundo e o pobre coitado não me conseguiu acompanhar - faço já aqui o reparo à Barraqueiro Oeste, que faz autocarros para anões e o Rapaz, grande e possante, fica ali meio entalado.
Fui a primeira a chegar à sala de estudo da faculdade. Fui buscar um cappuccino e já fiz as minhas primeiras leituras do dia. Depois de escrever, vou adiantar trabalho para o seminário que vou ter hoje. Tudo isto, antes do meio dia. Apesar de ter custado um bocadinho (grande) a sair da cama e não estar com a cara a mais bonita de todas, admito que estou a gostar muito de me sentir produtiva.
Nos últimos dias tenho andado um bocado stressada, coisa que não tem facilitado as minhas noites de sono - semestre novo a começar, querer ir ao ginásio e não ter horas, os transportes que são um caos, a resposta do estágio que não chega... e por aí fora. Por essa razão, há uns dias respirei fundo e percebi que vou ter muitos momentos como este pela vida fora e que tenho de aprender a não me esquecer de mim nos entretantos. Para me ajudar, descobri a minha nova cena preferida: aplicações. Sim, as do telemóvel.
Estas coisas sempre me fascinaram mas nunca aderi porque não tinha um telemóvel bom, que não começasse a fumegar sempre que instalava alguma coisa nova. No Natal comprei um iPhone - e correndo o risco de soar um bocado Kardashian - mudou a minha vida. Adoro-o. Amo-o, até! Já para não falar que posso ter mil e quinhentas aplicações que aquilo parece que não é nada com ele, é tudo esteticamente muito mais bonito - e isso agrada-me muito.
Ontem foi dia de investir na minha pasta da "Saúde". Fiz o download de três aplicações - fora a de origem, que já me conta os passos e me faz um gráfico todo catita com as minhas horas de sono. Descarreguei uma para controlar o meu calendário menstrual, outra para beber água e outra - a minha preferida - para meditar.
O calendário menstrual é só engraçado. Faz-me todas as perguntas e mais algumas - como está a minha pele, o meu humor, que dores tive, os desejos, as horas de sono... e depois - claro! - faz-me outro gráfico desses que eu adoro com a minha evolução ao longo do ciclo. Chama-se Clue e é gira que se farta.
A da água tem sido um desafio. Chama-se "My Water" e o ecrã vai enchendo de água à medida que vamos bebendo ao longo do dia. Coloquei o meu objetivo diário para dois litros. Ontem bebi 107% do objetivo e quando fui para a cama dei uma palmadinha nas costas. Agora só preciso de uma app que me lembre de ir à casa de banho.
A de meditação chama-se "Headspace" e fiquei fã. Já falei várias vezes aqui de ansiedade e de haver muita coisa capaz de me tirar o sono - as minhas amigas dizem que é típico do meu signo e eu acredito nelas. Já disse que jamais irei ter uma filha a nascer em setembro. Por essa razão, decidi experimentar esta aplicação, aconselhada neste vídeo.
Até agora sei que tenho um percurso de dez dias. Cada dia tenho uma faixa para ouvir, com a duração de dez minutos. O objetivo é usar esses dez minutos para esvaziar a mente e concentrar-me em mim, no meu corpo e nos meus sentidos. Na faixa de ontem ouvia-se a voz mais calma do mundo - e masculina! - a dar-me instruções sobre como respirar e como tomar consciência do meu corpo. O que mais gostei foi do facto de ele - tenho que lhe arranjar um nome - mencionar várias vezes que, visto ser o primeiro dia, era normal que ainda fossem aparecendo vários pensamentos durante os dez minutos da faixa. Isso, acreditem ou não, dá um conforto extra porque não sentimos nem que estamos a fazer aquilo tudo mal nem que estamos a ser ridículos. Fiquei fã e acreditem que sou bastante cética em relação a estas coisas.
Perante o meu entusiasmo com a minha pasta da "Saúde", os meus pais questionaram-me se eu não estaria a deixar-me controlar pela tecnologia. Se calhar estou. Se calhar estou a ter a ilusão de escolha, quando na verdade estou a ser condicionada pelo Trump e os seus minions sem me aperceber. Se calhar - como me alertou o Rapaz em tom de brincadeira - estou a deixar que o moço da meditação me envie mensagens subliminares para o cérebro.
Mas epá... se me faz sentir melhor, ter uma pele mais bonita, saber quando vem aí o TPM e beber mais água, acho que posso viver com isso. Isto das apps e da tecnolodia é sempre um pau de dois bicos mas acho que se vivemos numa era com acesso a ferramentas que tornam hábitos diários numa coisa mais divertida, por que não aproveitar? Sim, os meus avós não tiveram nada disto e estão muito felizes e bem de saúde, muito obrigada. Mas as coisas estão cá, alguém perdeu tempo a inventar isto - mesmo que tenham sido os minions do Trump. Por que hei-de rejeitar uma app tão gira e substituí-la por uma lista mal amanhada, escrita à mão? Até agora ainda me sinto eu própria, não fiquei a sonhar com atentados que nunca aconteceram, por isso acho que está tudo bem. Vou dando o update, pelo sim pelo não.
Apps giras giras giras são (Sinónimo de) Carmezim.
Qual é coisa qual é ela, que é mais difícil de lidar do que ficar com saudades de alguém?? É matá-las! Meu Deus, já tiveram o vosso mais que tudo longe de vocês durante um espaço de tempo - que para tanta gente seria uma mera anedota, e por isso não vou revelar o total de dias - que parece uma autêntica eternidade? Até me deu borbulhas, aquelas bem vermelhas e terríveis. Chamei-lhes reacção alérgica a estar longe do Rapaz.
Um dia ouvi a minha cunhada a falar do meu irmão e no meio dum discurso bem bonito, ouvi-a dizer "Sabes, sinto saudades do teu irmão todos os dias!". Na altura, acenei com a cabeça, fiz um ar de riso mas creio de não me pronunciei. No entanto, sei que pensei "Vá, vamos ter calma. Gostas muito dele..... mas não é preciso exagerares." Este é apenas um pequeno e rápido exemplo de como só pudemos mesmo julgar uma pessoa quando estamos na sua pele, a sentir o que ela sente. Eis que o feitiço virou-se contra a fadinha - eu própria - e já percebi exatamente o que ela quis dizer.
O Rapaz voltou e é uma alegria que nem vou tentar escrever sobre ela porque seria apenas tolice tentar arranjar definição para um sentimento que não tem uma. Foi como se o visse pela primeira vez.
O único senão numa situação destas é o relógio que não pára, as horas que passam a correr, e as saudades que simplesmente não se deixam matar. Isso pode deixar uma pessoa verdadeiramente ansiosa, porque a vontade é de engolir o Rapaz, para que ele fique aqui. Engolir de beijinhos. Guardar o seu cheiro numa garrafinha só para mim. Se calhar isto dito assim não parece lá muito saudável, mas é. Somos uma equipa, somos os melhores amigos, e apesar de sabermos isso todos os dias, é quando temos saudades um do outro - mas preferencialmente na fase de as matar - é que isso ainda se torna mais evidente para nós. E é maravilhoso.
Hoje queria que ele tivesse ficado, talvez mais do que nos outros dias. Não só porque ainda temos muitas saudades para matar, mas também porque hoje ele levou com um mini-amoque. Demos bem a volta à coisa, que ele sabe como me acalmar. Mas sabem quando sentem montes de emoções - mesmo que sejam boas - e eis que surge algo que nos faz choramingar um bocadinho? Pois, foi isso. Ele - lindo que só eu sei - abraçou-me e não me deixava ir mesmo que eu tentasse. Não tentei, obviamente. Não tentei porque há muitas saudades para matar e porque só ele sabe como me mostrar que está tudo bem e - curiosamente - que não tenho razão.
No entanto, ficou no ar a promessa de que vou respirar fundo mais vezes. Em vez de olhar para o que me dá urticária, olhar para ele, porque na realidade é só isso que me basta para perceber que está tudo bem - e que vai estar sempre. Ouviste, amor? A menina promete. Provavelmente até foi dos nervos da entrevista de amanhã, juro! Sabes que normalmente não sei ter nervos miudinhos, são logo graúdos. Obrigada por me segurares quando parece que me vou partir, meu amor. Desculpa lá a namorada exagerada. Só mais um bocadinho de paciência.
A minha mãe sempre me disse: honestidade e não pensar demasiado em coisas que realmente não têm assim tanta importância. Equilíbrio, diz ela sempre com aquele ar tão descontraído, sem tirar os olhos do Amor Maior porque afinal, é só equilíbrio, Marta. Nada demais.
Ela também costumava dizer que, às vezes, sou capaz de dramatizar um bocado. O meu namorado, apesar de não o dizer, também tenho a certeza que o pensa de vez em quanto - mas vá, menos de uma vez por mês, foi esse um dos goals pessoais que estabeleci.
Há uns tempo atrás, quando ouvia alguém dizer isso de mim, ficava toda chateada, vinha para casa ter uma conversa com o espelho e punha-me lá a ralhar: "Devem estar loucos. Eu? Dramatizar? Deviam conhecer *inserir nome de outra pessoa que eu esteja a gostar de não gostar nessa altura* e aí sim, iam ver o que é dramatizar." Hoje, para meu bem e de todos os que me rodeiam, sou capaz de reconhecer esse pequeno handicap que tenho. Há alguns bons meses para cá que ando a tentar trabalhar nisso, e consequentemente, na ansiedade. Faziam-me ou diziam-me 8 e eu vinha para casa pensar naquilo enquanto comia, enquanto tomava duche, antes de dormir, e no dia a seguir, esse 8 já era um 80. Francamente, acho que tenho feito um bom trabalho. No entanto, vamos lá ter calma, que isto não se resolve assim do dia para a noite.
Dentro da temática "Dramaqueen" há um tópico que às vezes me faz ter uma recaída, ou - como lhes chamo - um amoque. Esse tópico é o timing certo para ter uma conversa, calma e honesta, sobre algo que me deixou desconfortável, numa tentativa de me fazer sentir melhor. Sem dramas, só ser honesta e resolver o que possa haver para ser resolvido - o tal equilíbrio que na voz da minha mãe parece tão fácil.
No entanto, para mim, essas conversas são como uma caixa de donuts - têm um prazo de validade muito curto. Sou muito adepta destas conversas, mesmo que elas sejam apenas uma forma disfarçada de eu continuar a dar importância a todos os pormenores. No entanto, esse prazo curto em que as conversas podem e devem acontecer ajuda-me a pôr a situação desconfortável - vamos chamar assim - para trás das costas. Objecitvo: reconhecer que, se não precisei MESMO de conversar dentro do prazo, então é porque não era assim tão importante.
Ontem, já depois do prazo para uma conversa dessas ter terminado, estava no banho a pensar: "mas também, para que querias essa conversa afinal? Para ouvir um pedido de desculpa? Já ouviste. Para não te sentires tão mal? Também já te disseram que não tens razão para isso. Então, para quê?". Percebem o meu problema? Se deixei passar o prazo, porque é que ainda me fico a questionar sobre algo que já passou, e se resolveu? - atenção, resolveu-se na minha cabeça, porque na dos outros, nunca foi algo, logo para começar. E atenção outra vez: eu sei perfeitamente que neste caso, quem está mal sou eu e não os outros.
Esta coisa de, como dizem os americanos, put things into perspective e reconhecer o que realmente é importante, para o bem e para o mal, é mais difícil do que parece. É coisa de adulto, credo. Mas vá, equilibrio Marta. Estás a portar-te bem.
Mas escrevi sobre isto. Estou a dar demasiada importância? Porra!
Pensar demasiado é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.
Sou a Marta e gosto de escrever umas coisas de vez em quando.
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