A equação perfeita
Tenho uma relação de amor-ódio com números. Na escola sempre detestei matemática e mais tarde fisico-química e outras disciplinas que tais. Sorte a minha que tinha jeito para as outras e por isso a minha escolha em seguir humanidades no secundário não foi só para fugir à matemática. Nessa altura, detestava mesmo tudo o que metesse números.
Com o tempo fui percebendo que os números, às vezes, podem ser coisas giras. Engraçadas, até. Nos casos mais bonitos, podem medir o tempo que passamos com alguém de quem gostamos. São os dias de aniversário em que a família e os amigos se juntam. São os anos de uma pessoa, os anos de casamento, de namoro, os anos que se trabalha num determinado sítio - motivo de especial felicidade nos dias que correm. Podem ser os nove meses que faltam para uma criança nascer, o seu primeiro aniversário. Podem ser o número que vemos no extrato bancário quando recebemos o ordenado. Pode ser o "-70%" quando vemos aquela coisa que há tanto queríamos comprar e está finalmente em saldos. Os números podem ser muito felizes.
Ontem, os números fizeram-me pensar. Fizeram-me pensar sobre as coincidências da vida e de como, se não fossem os números, ninguém dava por elas... pelo menos neste meu caso. Ontem foi dia 17 e foi dos dias mais felizes da minha vida. Se há umas semanas partilhei que tinha passado quatro horas a chorar por ter chumbado à última cadeira que me faltava completar para estar oficialmente licenciada. Ontem voltei a chorar, porque passei ao exame.
Muita gente achou a minha reação quando soube do meu chumbo um exagero. Para além do choque que foi - porque não estava mesmo à espera - tive aquela reação por causa do tempo... e dos números. Se chumbasse os meus planos no tempo ficariam todos trocados. Em primeiro lugar, a minha vida ficaria suspensa até dezembro visto que teria de ficar na faculdade mais um semestre a fazer a merda da cadeira que me faltava. Isso implicaria que o meu mestrado ficasse adiado, pelo menos, um ano. Consequentemente, já não iria terminar ao mesmo tempo que o meu Rapaz, para fazermos os planos que temos já pensados. De forma resumida, ia ficar no limbo durante tempo indefinido.
Ontem foi dia 17 e terminei o meu curso. Na minha família, especialmente em minha casa, este já é um número com alguma carga emocional. No dia 17 de julho - precisamente ontem também - é o aniversário de namoro dos meus pais. Quase no século XVIII, no dia 17 de julho o meu pai pediu ao meu avô se podia namorar com a minha mãe. Eles deviam ter uns quinze anos. Ontem foram jantar fora para comemorar, com 55.
No dia 17 de dezembro os meus pais casaram-se, há 33 anos atrás. Passados uns quantos anos, no mesmo dia, eu fui batizada, na mesma igreja em que eles se casaram. Por isto, sempre gostei muito do número 17 também. Ontem, dia 17, os meus pais receberam em casa uma filha licenciada!
Sem ser o 17, outro número muito importante para mim foi o 10. O meu avô paterno, o excelentíssimo Senhor Domingos das Telefonias, faleceu. Foi um momento muito difícil na minha família, para todos. Para mim, foi dos dias mais tristes da minha vida, especialmente porque fui afortunada o suficiente para nunca ter perdido ninguém até aí. Foi no dia 10 de janeiro. Passado um ano, no dia 10 de janeiro, conheci o meu melhor amigo e a pessoa com quem espero ficar para sempre: o meu Rapaz. Perdi um dos homens mais importantes da minha vida ao dia 10, para conhecer a pessoa que mudaria a minha vida para sempre.
Há uns dias atrás, soube que fui colocada no mestrado com que sonhava, na faculdade que escolhi. Fui a colocada número 10.
Ontem, dia 17, dia dos meus pais, passei ao último exame que me faltava para concluir a licenciatura... com 10. Foi um dia do caraças e ontem, especialmente, adorei números.
Estar licenciada é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.
