Comer, Orar... COÇAR!
Sempre me achei uma pessoa bastante simpática. Durante os meus tempos áureos do pico da adolescência não achei propriamente isso de mim. Se achasse, até fazia de propósito para não o ser. Nunca fui mal educada para ninguém, sobretudo se esse alguém conhecesse os meus pais, mas para as pessoas da minha idade, gostava de "não dar muita confiança".
Afinal, tinha que fazer jus às minhas escolhas de indumentária, certo? Queria ser o que os americanos chamam de though. Felizmente que essa pancada me passou e deixei de ver mal em gostar de cor de rosa, em sorrir mais de uma forma geral e de tentar ser mais positiva para com a vida. Por essa razão acho que, entre outras qualidades, sou uma pessoa simpática. O que nunca me tinha apercebido é que se calhar também sou uma pessoa doce. Literalmente.
Há uns anos atrás houve, nos cláustros de um igreja aqui dos arredores, uma exposição com os trabalhos de EVT do meu ano escolar. Os pais, amigos, tios, avós, periquitos e outros que tais estavam todos convidados para a inauguração da exposição. Acho que foi o primeiro - e o último - momento em que tive um trabalho meu exposto numa parede e por isso, foi com muito entusiasmo que os meus pais me acompanharam à exposição.
Eu devia ter uns 11 anos e o meu desenho era, obviamente, o mais feio de todos. Os meus pais adoraram, mas pronto, isso faz parte das suas funções. Como o funcionário público tem de picar o ponto. No entanto, não é o facto do meu desenho ser o mais feio de todos que é aqui o ponto de interesse - aliás, para quem me conhece bem isso tem 0 valor informativo, visto ser apenas o esperado. O ponto alto desta história é que na tarde desse dia, a minha mãe abriu a janela do meu quarto - as famosas janelas - e assustou uma família de vespas que tinha escolhido lá fazer o seu ninho. Três ou quatro vespas - provavelmente pais e avós - sairam em defesa da sua propriedade e atacaram a minha mãe, o Godzilla desta cena. A minha mãe acabou com os dois olhos e uma das mãos completamente inchados. Foi na mesma à exposição, mas quem a viu aposto que ficou sem saber se deveria ligar ou não para a APAV. Se calhar também foi por isso que disse que gostou do meu desenho: tinha os dois olhos praticamente fechados.
Escusado será dizer que, à semelhança de uma catrefada de outras coisas, também herdei da minha mãe esta reação alérgica a picadas de insectos. Todos os verões é a mesma coisa: quando o calor começa a aparecer lá ouço o bzzzzzzzzz absolutamente irritante das melgas e já sei que no dia seguinte, apesar de grandes, tenho duas ou três borbulhas que me vão levar à loucura com a comichão. Durante os meses de verão, eu sou um bebé e o Fenistil é o meu ursinho de peluche sem o qual não consigo dormir sem ter pesadelos com melgas assassinas.
Depois de tantos anos a habituar-me a estas picadinhas, as cabras das melgas acharam que estava na altura de me passar para o nível seguinte de tortura e para isso, chamaram alguém ainda mais irritante que elas: uma pulga. É verdade, uma pulga que me levou à loucura nos últimos dias. Há duas noites, eram duas da manhã e eu estava a mudar a roupa da cama. Depois de o fazer, sinto comichão noutro sítio em que ia jurar que ainda não tinha sido picada. Começamos a duvidar de nós próprios e a achar que até o simples toque dos lençóis na pele nos faz comichão. Ontem à tarde dispo o casaco "de casa" e até me assustei com os meus braços. TODOS MORDIDOS! E não estavam, eu juro! Foi manta, foi pijama, foi casaco, foi TUDO para lavar. Hoje, finalmente acordei sem nenhuma picada nova, mas entretanto passo os dias nisto:
Já perceberam que esta vida no campo durante o verão é mesmo complicada para mim. Ou tenho medo de encontrar cobras no caminho das cabras, ou tenho medo de canixes assassinos no caminho dos carros, ou tenho medo de osgas a cairem da janela do meu quarto abaixo, e agora tenho medo de ir com o meu cão à rua. Eu sofro.
Apesar de agora - espero eu! - ter a situação controlada, este é o estado atual do meu corpo:
- Braço direito: 9 borbulhas;
- Braço esquerdo: 2 borbulhas;
- Costas: 5 borbulhas;
- Perna direita: 4 borbulhas;
- Perna esquerda: 6 borbulhas;
- Pé direito: 2 borbulhas;
- Pé esquerdo: 9 borbulhas;
Exato, leram bem e eu fui mesmo contá-las uma a uma. Vermelhas, inchadas e que me dão uma comichão que me faz acordar de noite comigo naquele ponto em que estou quase a fazer sangue, tal a força com que coço. As dos pés nem vos falo, que pareço uma velhota a coxear enquanto ando.
Um total de 37 picadas numa semana. Eu que queria tanto uma chocker acho que vou comprar uma daquelas da FrontLine e fazer pandam com o meu cão. Pode ser que assim mais nenhum bicho me morda. Pelos visto, sou uma pessoa doce e o bicho que me andou a picar durante a última semana já deve ter morrido, mais que não seja com uma crise de diabetes.
Alergia é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.