Da saga do Panteão Nacional
Qual o assunto mais badalado dos últimos dias? A polémica do Panteão. Confesso que no sábado ou domingo de manhã quando acordei e li sobre esta notícia fiquei de queixo no chão. Achei uma decisão muito pouco ética e cheguei até a perguntar-me como é que as pessoas que foram ao jantar se sentiram bem ali a festejar e conviver - se é que sequer sabiam onde estavam.
Esse choque que senti quando ouvi a notícia pela primeira vez ainda se tornou maior quando dei conta da tamanha reação que isso causou nas pessoas. A indignação era umas trinta mil vezes maior do que quando ouvimos falar dum agente PSP que foi atacado em plena luz do dia. Muitos dos comentários que vi por essa internet fora revalavam até que as pessoas que os escreveram nunca puseram um pé no Panteão Nacional. Isso pôs-me a pensar numas quantas questões muito curiosas que, sendo apenas especulação, não deixo de pensar que podem eventualmente ser pertinentes.
Na audição do Orçamento de Estado para a cultura em 2018, umas das medidas anunciadas pelo ministro da cultura foi a criação de um Instituto dos Museus e Monumentos, retirando algumas funções à atual Direção Geral do Património Cultural - a quem chamou de "disforme". Obviamente que o ministro da cultura não prevê o futuro e não sabia que esta polémica iria acontecer - até porque ele diz que nem sabia do jantar! -, mas a verdade é que até vem a calhar.
O nosso ministro da cultura é um diplomata e leva à letra a sua função de governar, como uma governanta governa a casa dos seus senhores: toma conta sem levantar grandes ondas. Se os anúncios que fez na audição do OE já devem ter causado algum "sururu" a nível interno, imaginem se o que seria se o ministro despedisse a diretora geral.
A verdade é que na mesma medida em que o património tem ganho grande relevância, até a nível comercial, a DGPC também tem estado no centro de muitos problemas patrimoniais que revelam uma falta de estratégia clara. Por isso quando vemos o ministro da cultura a lavar completamente as mãos desta polémica, passando a batata quente para a Paula Silva, é porque toda esta polémica pode levar - na minha opinião - a que a diretora geral não tenha outra hipótese senão retirar-se do cargo.
Acho importante falarmos destas questões porque podemos estar perante uma situação que vai resultar em grandes mudanças relativamente à forma como o governo entende - e vende - o património. Será que seria preciso esta polémica toda? Obviamente que não é ético, mas já aconteceram lá tantos eventos e nunca ninguém disse nada. Será que é por não terem sido portugueses a lá jantar? Será por nos vídeos ouvirmos um agradecimento "ao ministro" e depois, na realidade, o primeiro-ministro condena e o da cultura diz não saber de nada?
Mas essa é outra questão: quando eu organizo a minha festa de anos há que tratar de uma data de coisas para que tudo corra bem. Será possível que num evento com as dimensões do Web Summit houvesse estas questões de logística por resolver? Duvido muito sinceramente, e por isso acho esta história um bocadinho estranha - para não dizer pior.
Obviamente que também não concordo com um jantar naquele local, da mesma maneira que não concordo com jantares no Palácio Nacional de Mafra, no da Ajuda ou em quase todos os museus nacionais deste país que estão legalmente autorizados a alugar os seus espaços para eventos privados. No entanto, agora - e sobretudo graça à forma como têm sido dadas estas notícias - está a ser pedida uma cabeça em específico: a de Paula Silva, que está incontactável desde que isto aconteceu. A questão que coloco é até que ponto é que ver esta senhora ir embora vai resolver o problema? Vamos esperar pelos próximos episódios.
Especular é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.