Desculpe, como disse?
Há cerca de um ano partilhei convosco uma das melhores notícias que o meu 2017 meu deu: os meus amigos (já aqui conhecidos) Carolina e Diogo ficaram noivos! Para além de ter o privilégio de acompanhar toda a preparação do casamento, escolher o meu vestido também vai ser um grande momento. Tendo em conta a relação que tenho com os protagonistas, quero mesmo ir, como costumo dizer, a dar tudo. Acho que é a ocasião ideal e claro, é uma ocasião que merece toda essa produção. Como tal, mesmo não sendo a noiva, ando a varrer tudo o que é lojas de vestidos de cerimónia, tudo o que é cores, padrões, cortes... TUDO o que possam imaginar, eu já vi. Já gostei de vários por essa internet fora, mas experimentá-los é outra história.
Não estava à espera que assim fosse, mas no dia em que tive o prazer de ver pela primeira vez uma grande amiga vestida de noiva, acabámos o dia comigo a experimentar cerca de VINTE vestidos, em todas as lojas de cerimónia que conseguimos encontrar no centro das Caldas da Rainha. Ora, não sei se estas coisas acontecem de propósito porque o cosmos sabe que eu tenho um blog, mas foi mesmo nesse dia que aconteceu algo que achei tão escandaloso que pensei "segunda feira isto está escarrapachado no blog!". Não foi segunda, mas foi terça - ainda vou a tempo.
Depois de ter sido muito bem atendida em três lojas de vestidos de cerimónia, faltava só visitar uma que tinha uma das montras mais agradáveis. Nesta coisas dos vestidos de cerimónia, a linha que separa o diferente ou o ousado do piroso pode ser muito ténue, por isso há que analisar bem todas as montras. Estávamos especialmente entusiasmadas por entrar nesta loja, que fisgámos logo antes de almoço. Lá entrámos e começou logo tudo mal. A senhora, com cara de poucos amigos, respondeu-nos com um seco "sim..." quando perguntámos se podiamos experimentar alguns vestidos para casamento. Claro, podia estar a ter um dia mau e não lhe apetecer sorrir, até aqui o benefício da dúvida é completamente válido. Podia ser que, mesmo sem grande entusiasmo, fôssemos bem atendidas. Só que não.
Assim que começámos a tocar nos vestidos, a senhora da loja começou a seguir-nos. Isso é logo algo que me irrita solenemente, mas pronto, se calhar faz parte das regras da loja. Ainda assim, colocando essa hipótese, não sei como é que a loja funciona se lá estiverem mais do que uma cliente, visto que a atender estava apenas uma pessoa. Depois, perguntou-nos quando era o casamento. Respondemos com a data para logo de seguida sermos mandadas voltar duas semanas antes do grande dia, que era mais que suficiente. A senhora deve ser muito decidida, para achar que duas semanas antes de um grande evento, com a probabilidade de serem feitos ajustes no vestido, é tempo suficiente.
Depois, começou a dizer-nos que nada do que ali está vai estar na moda para o ano. Para voltarmos depois. Que não vale a pena andarmos ali a ver e a experimentar. "É para termos uma ideia de que formatos me ficam bem", tentava eu explicar. Não valia a pena. A senhora só estava empenhada numa coisa: expulsar-nos da loja e convencer-nos a voltar para o ano. Com este tipo de abordagem, não sei qual é o cliente que pensa que sim, que vai voltar àquela loja, onde se foi atendido assim. "Somos de longe, por isso viemos ver o vestido da noiva e estamos a aproveitar para ver mais algumas coisas.". Não valia a pena dizer nada. "Nada disto vai ser giro para o ano", dizia-me ela de volta, como se eu fosse uma Kardashian que quer é lançar tendências e por isso não posso gostar mais de um vestido deste ano do que de os do próximo.
Enfim. A situação já estava negra. Eu e as minhas amigas já nos entreolhávamos num misto de "esta só pode estar a brincar" e um "quando é que podemos deixar de responder bem a esta senhora?". Contra a vontade das minhas amigas que já só queriam voltar as costas, eu peguei num vestido para ir experimentar. Claro que antes de eu lhe pegar ela teve que acrescentar que aquilo para o ano não ia servir, mas teve que ser. Ela parecia ter tão pouca vontade de "aturar" clientes que eu tinha que levar a minha avante.
Experimentei e não gostei, mas havia outro que me tinha deixado com a pulga atrás da orelha. Pedi à minha amiga Carolina que mo trouxesse. Quando ela voltou ao provador trazia consigo uma cara de choque tão indescritível como a expressão de felicidade que ela tinha quando vestiu o vestido de casamento. Depois de todos os comentários infelizes e da pouca vontade NÍTIDA de nos receber na loja, a senhora ainda se conseguiu exceder mais. Quando viu a Carolina pegar no vestido, foi ter com ela e pediu-lhe que tivessemos cuidado ao vestir o vestido - tudo ok; é que a parte de baixo do vestido tinha linhas que ficam facilmente puxadas - tudo ok; "é que esse custa mais de 300 euros e POR ISSO, eu sei que vocês não vão levá-lo" - desculpe, como disse?
Eu nunca trabalhei numa loja, mas tenho a certeza de que este tipo de afirmações passa todos os limites do que é aceitável quando se fala com um cliente. Que eu saiba, não é obrigatório mostrar extrato da conta ao entrar na loja, portanto não sei mesmo onde é que a senhora viu que eu não podia levar aquele vestido para casa. Atenção: não estou a dizer se o vestido é caro ou barato, muito menos estou a dizer que estou aqui a deitar dinheiro dos bolsos, mas este foi um momento em que tive pena de não ter feitío para armar escabeche, nem que fosse para saber o que levou aquela senhora a dizer tal coisa.
O mais curioso é que, de quase vinte vestidos, aquele ficou em segundo lugar. Obviamente que nunca mais lá ponho os pés e obviamente que não o trouxe, embora quisesse muito esfregar-lhe um recibo na cara. O que vale é que tenho dois dedos de testa e respondi-lhe sempre com a maior das educações, sorri muito e no final ainda lhe pedi um cartão da loja. Assim que passámos a porta, pude finalmente dizer "já podemos todas vomitar?".
Peripécias na caça ao vestido é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.