Frustação em direto
Em grande parte dos dias, acho que o mundo tem muita coisa bonita. Sou daquelas pessoas que pede para se mudar o canal quando se falam durante horas seguidas sobre a Síria ou quando dão mais que duas reportagens seguidas sobre o Trump. Não mudo de canal numa tentativa de ignorar o que se passa, ou de não querer encarar os problemas com que vivemos atualmente - é mais numa tentativa de não terminar o dia a pensar no que de pior há no mundo.
Apesar de fazer este exercícios de passar mais tempo a pensar no que há de bom na vida, há uma coisa que eu sinto que nos falta todos os dia: banda sonora. Acho que nos faz uma falta tremenda ouvirmos músicas a entrar na atmosfera consoante a situação que estamos a viver. Claro que temos a maravilhosa invenção dos fones - embora nos transportes públicos haja sempre um marsiano que ainda não deu por isso - mas é necessário pormos play, é necessário clicar no seguinte porque se calhar aparece uma música que não nos apetece assim tanto ouvir naquele momento... Estou a falar da música ideal, no momento ideal. Ia ser delicioso.
Já foram várias as tentativas de fazer a minha vida rodeada de música: aqueles pequenos concursos locais, outras experiências do género e, com o chegar dos 16 anos, foi The Voice, Ídolos, Factor X e tudo o que possam imaginar. Digamos que, havendo lá malta que o seja ainda mais que eu, já sou um bocado batida nesse tipo de andanças.
Aos 16 anos, este tipo de experiências é todo um mundo novo. Depois somos rejeitados, deita-se lá uma lágrima sem ninguém perceber quando se liga aos pais e pronto, começa-se logo a pensar no ano seguinte. Depois, vamos ao segundo casting e as horas de espera já demoram um bocado mais a passar, porque a coisa já não é novidade. Quando vos falo em horas de espera estou a referir-me a cerca de 24 horas - sim, leram bem. Num desses castigs fiquei lá de um dia para o outro, para passar em QUATRO fases de pré-castings e mesmo assim ainda me queriam - como dizer? - endrominar para ir cantar aos jurados.
Engane-se quem pensa que os cromos só são como os vemos quando entram na sala de castings, ou até que são atores contratados pela produção. Eles existem e eu sou fã deles. No último casting dos Ídolos a que fui, o rapaz que estava atrás de mim na fila - e que esteve, durante cerca de 20 horas - era aquele rapaz a quem meteram umas orelhas gigantes em desenho animado. Era um querido, e fiquei fã dele e de todos os outros que a ele se juntaram porque durante 20 horas não pararam de cantar, tocar e dançar na fila. Eu, por várias vezes, quis ir embora mas há sempre aquele pensamento do "E se for desta?".
Mas também não foi dessa. Na terceira vez, a minha mãe revirou os olhos quando lhe disse que ia tentar outra vez. É verdade que aquilo é 90% fantuchada, 10% sorte e 100% pressão mas para quem sonhou muito tempo com esse mundo, vive-se sempre com uma esperança pequenina que as coisas começem a correr melhor. Às vezes acho que é mais admitir que já não se quer tentar, que o sonho de criança foi só mesmo isso - de criança - e que agora já conseguimos encontrar outros sonhos para o nosso futuro. Mas o bichinho fica sempre cá, e vamos lá mais uma vez porque esperamos que se consiga controlar mais os nervos ou até que de um ano para o outro se consiga inventar alguma história triste para contar em frente às câmaras.
Também não foi dessa, e prometi que essa seria a última. Com o crescimento das redes sociais e do YouTube - o meu favorito - decidi que mais valia começar a poupar para bom equipamento e abrir um canal onde pudesse cantar o que bem me apetecesse para quem quisesse ouvir, sem estar dependente de um sim de alguma celebridade. Mesmo sem esse equipamento necessário - e caríssimo - para fazer as coisas que um dia desejo fazer, fiz esta brincadeira como surpresa para o meu Rapaz no seu último aniversário. Sejam meiguinhos!
No entanto, quando comecei a ver os anúncios do programa "Just Duet" da SIC, fiquei muito curiosa. O formato parecia-me diferente do que já se tem feito em Portugal e de tudo o que já experimentei. Em discussão sobre se deveria ir ou não, o meu Rapaz perguntou "Se pudesses escolher com quem cantar, quem escolhias?" e a minha resposta imediata foi "O Héber, dos HMB!". Assim que o disse, pensei logo que estar a concorrer com a esperança de um desses mentores ser exatamente quem eu gostava, era ambicionar ainda mais do que simplesmente passar no casting. Ideia descartada, até porque mesmo se passasse, só se iam saber os mentores nas galas e a essas fases eu não chegaria, certo? Errado.
Não sei há quanto tempo esse anúncio anda a passar na televisão, mas ontem, naquele espacinho entre o "Amor Maior" e a "Rainha das Flores" passa uma nova versão do anúncio do programa. Aparece o Agir, aparece o Paulo de Carvalho - "Jura que já estão a anunciar os mentores!" -, aparece a Gisela João (nível de azia começa a subir) e, para terminar em beleza.... aparece o Héber. Sim, o dos HMB. Sim, aquele mesmíssimo que eu queria.
Estava de queixo no chão. Quais a probabilidades de isto acontecer?? Se calhar, eram tantas quanto as probabilidades de eu passar se tivesse ido ao casting. Agora olha, ficas em casa no sofá a ver o programa, toda ressabiada, tipo velha do Restelo a dizer "Oh, isto também eu fazia!". Caraças, Héber!
Ser wannabe cantora é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.