Guardado na estante #9 | Dou-te o Sol
Epá, por onde começar? Cheira-me, não sei porquê, que este post de Guardado na Estante vai ser como o anterior, sobre Ernest Hemingway: confuso e ali entre o amor e o ódio. Até ao lançamento de Dou-te o Sol nunca tinha ouvido falar de Jandy Nelson e mesmo depois de ter lido este livro não fui procurar saber mais sobre ela. Se calhar devia, mais que não fosse para perceber melhor a senhora e o seu objetivo com as suas histórias.
Ouvi falar sobre o livro pela altura do seu lançamento e obviamente que achei que tinha uma capa muito bem escolhida, em plena hamonia com o próprio título do livro - igualmente bonito. Chamou-me a atenção na altura, mas não o suficiente para ir a correr comprar, por isso passou. Meses depois, uma amiga da faculdade começou a lê-lo e fez-me relembrar o quão fofinho deveria ser a história. Depois de ter lido Fala-me de um Dia Perfeito e ter ficado absolutamente apaixonada achei que este tinha que ser a próxima história cor-de-rosa que eu iria ler. Assim foi: depois de um livro mais sério e pesado como foi "O Adeus às Armas", atirei-me com muita vontade a "Dou-te o Sol" de Jandy Nelson.
Em primeiro lugar comecei a sentir que o livro demorou demasiadas páginas a "arrancar". Aquele momento em que "está tudo bem" durou demasiados capítulos e achei que isso não só desmotivou a leitura como também acabou por confundir quem lê porque ficamos sem perceber muito bem o rumo da história. Acredito que a ideia da autora tenha sido a de criar uma nuvem de suspense, mas não achei que fosse lá muito bem conseguido. Há uma óbvia vontade de deixar um nó na cabeça do leitor, deixá-lo a pensar que partido tomar, mas era preciso uma muito maior perícia na escrita para ser bem sucedida nesse aspeto.
Outra coisa de que me apercebi, sobretudo depois de ter feito a minha avaliação no Goodreads e ter li outras tantas reviews, foi que devia dar graças a todos os santinhos da literatura por ter lido o livro em português. Acredito que eu não teria percebido metade da história se não o tivesse feito. Em várias críticas que li, especificamente à versão em inglês, falava-se de como, muitas vezes, a autora tentava ter uma linguagem tão inteligente e rica que acabava por deixar de fazer sentido. Na versão em português consegui perceber tudo e pelas críticas parece que a tradução está melhor que o orginal, mas é verdade que notei essa vontade excessiva da autora. Essa linguagem e esse estilo baseiam-se sobretudo na objetivação e na repetição, o que acaba por contribuir ainda mais para a lentidão da narrativa que falei anteriormente.
Depois, aquilo que mais me desiludiu: as personagens. A história centra-se numa família normalíssima, um pai, uma mãe e dois filhos gémeos que apesar de se amarem, estão constantemente a competir pelo amor, atenção e aprovação dos pais. Estes dois gémeos são representados nos livros dos 13 aos 16 anos e digo-vos que se eu lesse este livros com aquelas idades não me poderia identificar menos com eles. Agora aos 22, muito menos.
Estes dois irmãos são uns exagerados - e para EU ter achado isso, imaginem só o nível de que vos falo. Para eles tudo é demasiado tudo e vão morrer de desgosto se as coisas não forem assim ou assado. Acreditam demasiado em macumbas e mezinhas caseiras e às vezes chega mesmo a ser parvo. O que me chateou mesmo foi essa coisa do exagero. Poucas foram as páginas em que achei que algum deles estava a ter uma atitude sensata. Pareceu-me irreal e achei que aquela história ganharia muito mais se houvesse espaço para situações com as quais o leitor se pudesse identificar.
No entanto, não se pode negar que a ideia geral da história é gira e também é verdade que, independentemente do exagero das personagens principais, o livro toca em temas muito importantes e pertinentes sobretudo no que toca a pessoas que estejam a atravessar a adolescência. Um desses temas que achei que está muito bem explorado no romance é o facto de tratar do amor heterossexual e homossexual nas mesmas faixas etárias e de como isso pode ter muita coisa boa e muita coisa má, independentemente do tipo de amor que uma pessoa sinta.
Foi um livro que ficou muito áquem das minhas expectativas. Esperava muito mais, sobretudo no que toca às personagens. Esperava mesmo que me ia apaixonar por um livro como me aconteceu com Fala-me de Um Dia Perfeito", mas não foi de todo o caso. Se ficaram curiosos, por favor leiam este livro e digam-me o que acharam. Se calhar foi a minha leitura que falhou redondamente e adorava discutir este livro com alguém.
Acompanhem o meu progressos nas minhas leituras e as minhas sugestões no meu perfil Goodreads e não se esqueçam de fazer as vossas comprar na WOOK, onde podem agora tirar proveito de 15% de desconto em todos os livros do Plano Nacional de Leitura.
Bons livros são (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.