Aquilo que se passou ontem em Manchester foi absolutamente maravilhoso. Deitei algumas lágrimas - e novidades, Marta? - nalguns momentos e foi sem dúvida uma oportunidade que tive para refletir, sobretudo por na noite anterior o território do Reino Unido ter sido alvo de mais um ataque. 

O ano passado fui a um dos dias do Super Bock Super Rock ver um dos meus artistas preferidos de sempre pela primeira vez: Kendrick Lamar. Nesta altura tinham passado relativamente poucos meses desde o último ataque terrorista - o do Bataclan, se não me engano. Entre músicas, o Kendrick Lamar virou-se para o público e muito emocionado desfez-se em agradecimentos. Na altura fiquei confusa porque achei que estávamos todos a ver um concerto tão bom que nós é que devíamos estar a agradecer. Depois é que me apercebi que ele nos estava a agradecer por não termos ficado em casa, não termos sucumbido ao medo e estarmos todos ali a festejar. 

Nunca me senti corajosa. Nunca me senti corajosa por ir a um concerto - especialmente um com uma mensagem política tão forte como foi o concerto do Kendrick -, nem nunca me senti corajosa por ir a qualquer outro aglomerado de gente. Entro em discotecas sem sequer pensar nisso, entro no metro e não me passa mais nada pela cabeça durante as viagens para além de "estou apertada, porra!". No entanto, espero que ao contrário de mim, todas aquelas pessoas que ali estavam, se tenham sentido que nem super-heróis. 

Sigo várias famílias pelo YouTube, famílias britâncias, e várias expressam o facto de já haver um medo generalizado nas pessoas. Sei que não é só uma sensação que há no Reino Unido, mas ontem olhei para aquele mar de gente, quase todos de lágrimas nos olhos com cartazes a dizer "For Our Angels" e só sentia vontade de os aplaudir. Se calhar alguns deles perderam alguém. Se calhar alguns tiveram que deixar alguém ferido para trás para conseguirem fugir. Se calhar alguns perderam alguém no ataque do dia anterior - e estavam ali! 

Não sei o que lhes ia no coração, mas aquelas pessoas estavam a lutar e não tiveram medo de o fazer. Ver tamanho sentido de comunidade e união em direto foi uma autêntica honra. Há uns anos atrás lembro-me de ser miúda e pedir ao meu pai para pôr a dar os DVD do Live8. Ficava horas a ver aquele concerto incrível e por isso ontem, o "One Love Manchester" ainda ficou guardado com mais carinho no meu coração. 

Passaram por lá artistas que adoro e cantei na sala para tentar dar o meu contributo para aquela festa - para tentar não ter medo. Havia um artista para todos os gostos e até isso mostrava a intenção de não deixar nada nem ninguém de fora. Mostraram como todos podem viver em harmonia, sem conflitos por não gostarmos todos de amarelo. 

De todos os momentos lindos que vi ontem, houve um que me deixou simplesmente sem palavras... e foi este:

Para além de ficar feliz por ver o senhor Gallagher em tão boa forma, vi-o a fazer um dueto com outro dos meus grandes ídolos. Ainda por cima, a cantar esta música, que neste contexto é possívelmente dos momentos de luta mais fortes e arrepiantes com que já me cruzei. Estou a ouvir a música enquanto vos escrevo estas palavras estou tão emocionada como estava ontem. 

Isto é que é ser corajoso. É precisamente quando vejo momentos como estes acontecerem que penso "nós vamos conseguir. Nós somos mais que eles. Temos que ser!"

Força Manchester, força mundo!

Acreditar no Bem é (Sinónimo de) Carmezim

Marta.