Memórias saborosas
Este fim de semana aconteceu uma coisa engraçada. Na realidade, aconteceram várias, mas esta foi especialmente deliciosa - literalmente. Já não é novidade para ninguém que sou daquelas pessoas que não tem "medo" nenhum de surpresas. Isto, porque parto do principio de que quem me quer surpreender até simpatiza comigo e por isso, as coisas hão-de correr bem. Quem já sabe disto de cor e salteado é o meu Rapaz, que me surpreendeu este fim de semana.
Levou-me a passear no sábado à tarde. Andou a ver sítios novos para experimentarmos num daqueles que é dos nossos sítios preferidos no mundo inteiro: Ericeira. São estas pequenas coisas, não são? Sei lá, provavelmente há muitos homens e mulheres que fazem estes pequenos gestos pelas pessoas de quem gostam, mas eu achei especialmente querido. Mesmo com o tempo a querer estragar planos, metemo-nos ao caminho.
Decidimos experimentar um pequeno café/esplanada bem perto da praia porque, já que ali estávamos, queriamos conseguir ver o mar. Ele estava de desejos e por isso, para que não fosse só eu a estar toda contentinha com o programa romantico, comemos uma tosta mista. A carta de bebidas quentes era um sonho, com pelo menos umas 20 maneiras diferentes de fazer chocolate quente. No entanto - mesmo havendo um chocolate quente branco com coco -, houve outra coisa que me fez sorrir assim que vi que havia: batido de morango!
Eu sei que isto pode parecer a coisa mais comum do mundo, mas acho que não bebia uma coisa daquelas há pelo menos 10 anos. Apesar da quantidade de sabores diferentes que poderia pedir no meu batido, escolhi aquele que foi um grande, mas mesmo grande clássico da Marta Pequenina: pura e simplesmente, morango! Assim que o copo veio para mesa comecei logo a ser arrebatada por um sentimento de nostalgia incrível, que ainda se "agravou" quando bebi o primeiro gole. Era tal e qual o que eu bebia.
Quanto era pequena, eu, os meus pais e o meu irmão íamos sempre de férias para Albufeira. Já não apanhei o meu irmão durante muitos anos - virou adolescente e começou a passar férias com os amigos - e eu também já não vou há alguns anos - em adolescente porque era parva e achava que já não era fixe passar férias com os pais e agora quero muito, mas simplesmente não tenho férias. Uma das voltinhas que dávamos sempre e que os meus pais continuam a fazer é um passeio ao fim do dia pela Marina de Vilamoura.
Não sei como é que essa tradição começou, mas a verdade é que já não sabia a férias no Algarve se não fossemos lá pelo menos um dia da semana. Uma das coisas que mais gostávamos de lá fazer era ir sempre à mesma geladaria e pedir os maiores gelados que houvesse na carta. O meu pai é O guloso lá de casa e por isso pedia um só para ele. A minha mãe e o meu irmão, que ainda assim dão uns toques ali ao nível do docinho, pediam um para os dois. Não sei se era de eu ser a mais pequena, mas lembro-me de aquilo me impressionar de verdade. Taças enormes, completamente diferentes das que se tem em casa, bolas de gelado em cima de bolas de gelados, tudo de cores diferentes, com uma sombrinha, com duas bolochas espetadas, alguns com palhinha.... era uma loucura.
A verdade é que a coisa ficava complicada para mim. Confesso que nunca fui muito de doces, nem mesmo de gelados, mesmo quando era pequenina. Para além disso, precisamente por aquelas taças me impressionarem tanto, não era capaz de sequer provar. Era demais, mas mesmo demais. Portanto, o que é que eu fazia? No meio daquele dia que era, literalmente, um dia para o exagero... eu pedia sempre um batido. Todos os anos. Podiamos lá ir até todos os dias (que não íamos), que eu ia sempre pedir um batido. Se calhar também porque, da única vez que pedi um gelado (mas um modesto, de cone só com uma bola de gelado) caí da cadeira e fiquei com o gelado espetado na cara. Não foi bonito.
Curiosamente, este fim de semana, pelo menos uns 10 anos desde a última vez que fiz isso e uns 20 anos depois da primeira, dei por mim a relembrar uma memória pela qual tenho tanto carinho. Não é engraçado? Como as pequenas coisas nos fazem lembrar outras pequenas coisas, mas que se tornaram memórias tão bonitas? Eu achei. Tanto, que contei esta história ao meu Rapaz e talvez, se não tivesse sido este lanche, não me teria lembrado de contar tão cedo.
Batido de morango é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.