Nas cantorias
Nunca achei que fosse escrever esta frase, mas a verdade é que já aconteceu várias vezes nos últimos meses várias pessoas virem ter comigo para me dizerem que devia continuar com os vídeos no YouTube. Há meses que não há novidades no canal por duas grandes razões. A primeira, acho que é óbvia. Se até o blog ficou com menos conteúdo deste que recomecei a trabalhar, seria de esperar que o canal "sofresse" mais com essa mudança, porque ser um tipo de conteúdo que dá mais trabalho. Em segundo lugar, porque decidi que daqui em diante só vou usar o canal para música.
Sou da opinião que a regularidade de upload de conteúdo novo é chave para lançar um canal/blog, mas tendo em conta a variedade de vídeos que hoje em dia se colocam no YouTube (e que eu tanto adoro ver), estava a sentir-me um bocadinho perdida. Depois, também pensei que não sou assim tão boa a maquilhar-me e nem faço assim tantas compras por mês para estar sempre a fazer desses vídeos e a mostrar tudo aquilo que comprei. Apesar de ter descoberto que adoro falar para uma câmara e que gosto ainda mais de editar os vídeos, sem dúvida que os vídeos que mais gostei de partilhar foram os vídeos de covers e por isso achei que seria mais satisfatório para mim usar o canal para ir... cantando.
A minha infância "tardia"/ pré adolescência foram as alturas da minha vida em que mais cantei em público. Ao início tinha uma ideia toda romantizada em relação ao que poderia ser da minha vida graças à música. Tive aulas durante alguns anos, participei em concursos da minha zona, cantei muito ao vivo (até numa igreja!) e fui à Uma Canção para Ti, Factor-X, ao The Voice e aos Ídolos. Todos eles uma autêntica desilusão e nessa altura percebi que a minha voz não era tudo aquilo que eu achava. Descobri que existem mil e quinhentas pessoas com mil e quinhentas vezes mais talento e, como diz o outro, era altura de "ficar em casa a coser meias".
Já que estamos numa de frases idiomáticas, esta é a altura desta história em que "pendurei as botas" no que toca às cantorias. Concentrei-me noutras coisas, sobretudo nos estudos e na minha escrita. Continuava a cantar em casa, mas só para mim. Sem me aperceber comecei a criar na minha cabeça uma barreira enorme em relação a cantar em público. Comecei a ficar envergonhada, muito envergonhada. Sempre que me pediam, as desculpas eram sempre as mesmas: "não me lembro da letra!" ou "estou com outra música na cabeça!". Houve alturas em que me perguntava porquê - porque raio estava quase com medo de cantar, mesmo que fosse para aqueles que me são próximos e com quem, à partida, estou mais à vontade?
O YouTube, o meu Rapaz e o Carlos (que participou já no meu canal) ajudaram-me a ganhar alguma confiança de volta. O YouTube, por um lado, porque me permitiu cantar para várias pessoas sem as ver - foi uma ótima maneira de desenferrujar! -, o meu Rapaz porque é a pessoa mais motivadora que alguma vez conheci e que me está sempre a mostrar que mesmo que eu não faça tudo perfeito e não seja a próxima Witney Houston, não há problema; e o Carlos, porque me tem mostrado que o mais importante, quer seja em gravações em casa ou em cima de um palco, o mais importante é o gozo que dá atuar ao vivo.
No último mês voltei a cantar em palco DUAS VEZES. Das duas vezes, sem aviso prévio nem ensaios. Numa dessas vezes estava realmente doente. Na segunda, fui para o palco cantar uma música que não sabia bem a letra. Todos estes cenários seriam absolutamente impossíveis há uns tempos atrás. O resultado? Não foi perfeito, mas a sensação com que saí daqueles palcos, mesmo em "festas da terrinha", fez-me lembrar aquilo que a Marta pequena sentia sempre que acabava de cantar em público: "Epá, eu acabei mesmo de fazer isto?!".
Tudo isto para dizer que há muitas coisas na vida em relações às quais eu não sou propriamente a pessoa mais descontraída do mundo. Há algumas coisas até que nem sei se algum dia vou deixar de as encarar com a seriedade com que as encaro hoje (mesmo que não seja preciso). Ainda assim, tenho que admitir: no que toca a cantar para os outros, é muito mais divertido quando deixo de pensar tanto!
Cantorias são (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.