Os miúdos e as fitas
Há coisa de um mês falei-vos aqui da minha nova missão para as semanas que então se seguiam: ser capaz de distribuir todas as fitas que tinha para dar. Passado esse mês e estando agora a exatamente dez dias do dia da minha benção das fitas, posso-vos dizer que falhei redondamente nesta minha missão. Vá, talvez a palavra "redondamente" pode aqui ser um bocado hiperbólica, porque fui adiando e agora olho para a minha latinha das fitas - é linda, até diz "Parabéns Finalista" - e estão lá três ou quatro.
A fita que ia para o estrangeiro, ficou em terra. O tempo voou e mesmo que enviasse, jamais iria chegar cá a tempo. Prefiro deixá-la na minha secretária, à espera que esta amiga do coração volte para me escrever uma mensagem. Outras, são daquelas pessoas com quem mantemos o contacto via redes sociais e telemóvel, mas com quem é raro estarmos. Aqui, a culpa é dos horários tão diferentes, uns a trabalhar, outros a estudar na margem sul e fica difícil de nos vermos. Já aceitei o facto de que esta semana vou ter que pegar no carro e fazer um porta a porta.
A semana passada entreguei uma fita a uma amiga, também dessas com quem normalmente estou sem ser preciso combinar nada. Frequentamos os mesmo sítios - ao fim de semana - e por isso, nunca me preocupei muito com esta fita porque sabia que mais tarde ou mais cedo ela ia chegar ao destino. Ora, quando olhei para o calendário vi que já estava a ficar bem mais tarde do que mais cedo. Os fins de semana como andam cheios - e sempre fora dos sítios normais - também impediu estes encontros espontâneos. Tive que tomar uma atitude e, um dia do nada, passei à porta de casa dela - como passo todos os dias - e lembrei-me que POR ACASO tinha comigo a minha lata das fitas. Pedi ao meu Rapaz para parar o carro e pus a fita dentro da caixa do correio - porque não me parecia que estivesse alguém em casa.
A fita ficou entregue. Enviei uma sms para a minha amiga a avisar que quando chegasse a casa tinha correio especial. Até que ela me diz que não tem caixa de correio. Era só ranhura, e a minha fita, feita num rolinho - e por isso fantástica para rebolar até à estrada - tinha caído sozinha no chão. Passado umas horas ela assegurou-me que a minha fita estava sã e salva. Ganhou o prémio de "História-mais-caricata-da-missão-entregar-as-fitas".
A dez dias da Benção de Finalistas tenho quatro fitas para dar ainda, se bem que espero que esta semana este número se reduza a uma. Fora esta situação que me traz algum stress também há a parte gira de faltar tão pouco tempo para o grande dia: começar a receber as que entreguei a tempo e horas.
Ontem recebi três: de uma das avós, de uma tia e de dois dos meus primos. Adorei todas, estavam lindas lindas lindas. Quando comprei as fitas pensei que não teria gente suficiente para dar trinta fitas e por isso, decidi distribuir pelos meus primos. São todos mais novos que eu e por isso achei que era uma ideia gira... mas não estava nada à espera do resultado. Li a fita da avó, e adorei. Li a fita da tia, e fartei-me de rir. Li a dos primos... e foi a primeira com que me emocionei de verdade. Aquelas palavrinhas tão simples de dois miúdos de quem se gosta tanto, foram diretas ao coração.
Sentir que aquelas duas pessoas pequeninas - um deles já está maior que eu, mas vai ser sempre pequenino para mim - estavam verdadeiramente orgulhosas de mim, pelo que consegui fazer, foi algo em que nunca tinha pensado o suficiente. Ler aqueles "parabéns prima, vais ser a melhor museóloga do mundo" ou "prima, vou querer ir visitar-te ao museu" foi como um abracinho deles. Também lhes dei a seguir, e um bem grande.
Entregar as fitas pode ser uma verdadeira saga, mas recebê-las tem sido incrível. A ver se esta semana experiencio a terceira parte de ser finalista: escrever a resma de fitas que lá tenho, porque não posso ser só eu a receber.
Ser lamechas é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.
