Pequenas vitórias na cozinha
Parece que ainda consigo sentir o sabor da vitória depois daquela que foi uma das minhas mais bem sucedidas aventuras na cozinha. A sério, foi toda uma sensação de orgulho que se apoderou de mim. Já parei para pensar e se calhar só o facto de não ter queimado nada nem ter ligado o turbo ao forno fez com que a comida me soubesse logo melhor, mas prefiro acreditar que estava realmente boa. Ainda assim, peço desculpa pelas fotografias meias parvas, mas o orgulho foi tal que entupi as conversas do Whatsapp com os meus pais e com o meu Rapaz só para lhes mostrar esta obra. Pena que as coisas só me saem bem quando faço só para mim. Ainda bem que tirei fotografia, senão eram bem capazes de duvidar de mim.
Ontem dormi até não ter mais sono. Acho que este foi o primeiro fim de semana em que pude não fazer NADA desde que voltei a trabalhar. Uma das decisões que tomei foi que iria desligar o despertador e me ia deixar dormir até todo o sono que sinto durante a semana ter ido embora. Pelos vistos - e como não me deitei muito tarde na noite anterior - o meu corpo acordou algum tempo antes do esperado. Acordei ainda muito a tempo de fazer o almoço, que ontem foi só para mim.
Estava um lombo de peru descongelado, que a minha rica mãezinha deixou de parte, não fosse eu enganar-me - na cozinha, isso é sempre uma possibilidade. A ideia era fazer uma coisa simples: cozer umas massinhas, cortar o lombo às fatias e fazer uma espécie de strogonoff sem muitas invenções. Olhem, não é que estava ali com tantas dificuldades em cortar o lombo às fatias que pensei: "então e se eu pusesse isto tudo NO FORNO?". Meu Deus. Estão a sentir o nível de loucura desta decisão, tendo em conta que da última vez que usei o forno queimei um bolo por fora que ficou cru por dentro? Se isso acontecesse, não só ficaria sem almoço, como também sem jantar para dali a umas horas e marmita para o dia seguinte. Fosse isto um jogo de poker e pode dizer-se que fiz all-in.
Pesquisei umas receitas na internet e tudo me pareceu demasiado elaborado. Decidi então fazer aquelas pastas para temperar a carne. Usei alho, colorau, azeite, vinho branco e alecrim. Misturei tudo e depois foi a parte gira, e em que pareci mais profissional: toca de barrar o lombo nesta molhenga! Agora, vem a parte verdadeiramente MasterChef, que ainda hoje estou para saber como me fui lembrar de fazer aquilo: PUS A CARNE NUM SACO DE PLÁSTICO A GANHAR SABOR DURANTE UMA HORA! A minha mãe ligou-me enquanto eu estava a fazer isto e quando lhe contei deste pormenor ela respondeu-me como quem diz "Marta, és tu?".
A ideia inicial era pôr a carne no forno com umas batatinhas, mas confesso: estava em grandes dificuldades para saber a quantidade de batatas. Depois era se as descascava ou não. Depois era se batatas aquecidas para o jantar e para o dia seguinte ficariam boas ou não - por isso descartei a ideia. Também para não perder o balanço nestas lides da cozinha enquanto a carne ganhava mais sabor, decidi cozer umas batatas. Foi um ótimo acompanhamento porque assim deu-me para o almoço e jantar, tendo apenas cozido um bocadinho de massa para fazer a marmita.
Agora era a parte de pôr no forno. Tentei pensar no que faz a minha mãe quando cozinha aquele rolo de carne maravilho. Fiz o que me lembrei, até porque já lhe tinha ligado uma vez a perguntar o modo do forno - não fosse eu ativar o turbo outra vez -, não lhe queria ligar mais! Fiz uma cama de cebola com alguns fios de azeite por cima e rezei. Fiquei ali feita parva a olhar para o lombo dentro do forno durante uns vinte minutos, tal era o medo de estragar aquilo tudo.
Então não é que ficou bom?! Nem a carne ficou seca sequer! Ok, algumas partes eram capazes de saber um bocado a vinho branco demais, mas assim no geral esta foi a minha experiência a sério na cozinha que CORREU BEM! Agora só me falta acertar com o tempero da salada - a minha mãe acha que eu exagero quando falo disto, mas juro que as minhas saladas ficam sempre a saber a mar de vinagre.
O que se seguiu depois - para além do almoço saboroso - foi uma sensação de vitória, tipo último nível do Super Mário, quando derrotava o dragão e salvava a princesa - sendo o meu dragão uma refeição bem sucedida! Eu sei que passa por aqui muita gente muito prendada que vai achar isto a coisa mais simples do mundo, mas espero que tu que chegaste ao fim deste post saibas que estás a testemunhar um momento histórico! Mais um bocadinho e já estou a fazer banquetes lá em casa!
Domar a cozinha é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.