Sem Spoilers #12 | The Handmaid's Tale
Meus caros leitores, vamos todos dar as mãos e fazer um exercício. Escrevo-vos este post pouco depois das nove da manhã e a vontade de ter ficado na cama mais um pouco é muita, por isso vamos todos fazer este exercício de forma a começarmos o dia de forma mais calma e agradável - notem que vos escrevi estas palavras com o tom mais relaxante do mundo, estilo voz do "Oceano Pacífico".
Vamos todos dar as mãos e sorrir levemente. Nem é preciso mostrar os dentes se não gostarem de o fazer: apenas um ligeiro sorriso, enquando damos as mãos e respiramos fundo. Fechem os olhos se quiserem - ou não, porque era capaz de ficar difícil de ler o resto do post e eu quero muito a vossa companhia. Concentrem-se nos sons que ouvem: se calhar um cão a ladrar lá fora, se calhar a Cristina Ferreira na televisão, se calhar só os carros a passar... mas lá bem ao fundo, sabem que som vão conseguir ouvir se se concentrarem? O som de palmas. Uma verdadeira ovação. É o som de The Handmaid's Tale.
Comecei a ver The Handmaid's Tale a semana passada e terminei no domingo passado, por sugestão da minha colega de trabalho. Já tinha também ouvido falar um pouco sobre esta série num artigo da NiT há já uns tempos, no qual esta série aparecia na lista de "Melhores séries de 2017... até agora!", mas confesso que na altura não me tinha chamado muito a atenção. Quando li, nesse mesmo artigo, que a série se passava num cenário distópico, fiquei curiosa porque desde que li o 1984 e o Brave New World esse passou a ser um dos meus temas preferidos de ver desenvolvidos. No entanto, ainda no mesmo artigo, as fotos da série que acompanhavam o texto deixaram-me meia confusa porque só me fez lembrar uma série de época pouco consistente.
Conclusão: só quando, a uma segunda feira, a minha colega de trabalho se sentou ao pé de mim e apelidou a série de "espetacular", cedi e fui experimentar. O que é que eu fui fazer à minha vida... só para verem, até via um episódio por hora de almoço enquanto comia a minha marmita, tal era a vontade de saber o que se ia passar a seguir.
A história passa-se, efetivamente, num futuro distópico. Nunca sabemos bem que futuro é este, mas a sensação com que fiquei foi a de que a história se passa algures nos próximos 10-20 anos - se calhar menos - e essa foi, para mim, a razão pela qual achei a série tão assustadora. Também sabemos que se passa nos Estados Unidos, embora também não sejam dados grandes pormenores sobre isto. A história foca-se sobretudo na "nova" vida de um grupo de mulheres: as handmaids, as "criadas", que nesta série faziam pouco mais do que ser uma espécie de barriga de aluguer para as famílias dos commanders, sendo esta a única maneira de sobreviverem.
A série é verdadeiramente chocante: as cenas de violação que são chamadas de "cerimónias", as violência física infligida a estas mulheres, a violência que elas são obrigadas a exercer sobre outros e todo o fanatismo religioso que, de episódio para episódio, nos apercebemos mais e mais que é o verdadeiro responsável por este novo mundo e por esta nova constituição.
O que mais me assustou nesta série - mas também o que a torna ainda mais interessante - é o facto de usar muitos flashbacks que, para além de tornarem a história mais intensa, são o instrumento utilizado para tentar explicar o porquê do mundo se ter tornado... naquilo. Essa é, sem dúvida, a parte mais assustadora de todas: vemos representadas, várias vezes, cenas e discussões que somos capazes de ouvir hoje nos telejornais. Ficamos a saber que aquilo tudo começou com a desculpa de "combater o terrorismo" e que a taxa de natalidade se tornou praticamente nula devido à poluição - daí a necessidade de, quando se reformulou a constituição, juntar as mulheres em idade fértil, de forma a fazer com que elas servissem o seu "propósito natural".
Entre outras coisas - como o amor, a violência, a política - o tema central desta série foi, para mim, a forma de cada uma daquelas mulheres sobreviver ao horror em que a sua vida se tinha tornado. Umas não conseguem, outras simplesmente estavam tão revoltadas com aquilo que sofreram terríveis lavagens cerebrais e depois as outras, que tentaram "manter a cabeça baixa". As atrizes são todas incríveis, quer sejam elas vítimas ou as responsáveis por todo o mal.
O papel do homem também é, obviamente, muito explorado nesta série. Existe por aí o argumento de que a série, à medida que vamos descobrindo mais sobre a história, mostra o quão oprimida pode ser a figura masculina. A primeira vez que li este comentário sobre a série achei só que aquela pessoa não poderia ter visto a mesma série que eu. Não querendo dar spoilers, deixo a minha opinião clara: não existe UM homem oprimido naquela série. No entanto, a sua presença é mais que necessária para se tentar, num plano ficcional, tentar justificar o injustificável.
Outro ponto muito positivo, para além da história, do argumento, das personagens... é a banda sonora. Existem cenas - sobretudo no episódio três, o meu preferido de todos - que não há um único diálogo. Só imagens e música e é aboslutamente arrepiante e aterrador. Há vezes em que ficamos completamente ESMAGADOS com a performance que estamos a ver. A série está muito, muito, muito bem conseguida e aconselho MESMO a todos que vão a correr vê-la. Aproveitem agora, que ainda não há por aí muito spoiler, mas também vos aviso que isso deve estar quase a acabar, porque cada vez mais gente fala da série. E eu acho muito bem.
10/10
Boas séries é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.