Sem Spoilers #9 | RAW
Se eu vos dissesse como estou chateada, vocês nem iam acreditar. Eu até me acho uma pessoa muito calma nesse aspeto. Raramente me irrito a sério, raramente fico chateada a sério com alguém ou com alguma coisa. Aliás, há uns dias alguém me perguntava se eu não tinha nada para dizer mal no blog, porque só dizia bem das coisas. Apesar de não achar que seja assim tão linear - já difamei aqui o cão da vizinha forte e feio - nunca fiz de propósito para só falar de coisas de que gosto.
É uma questão de sorte. Por acaso, deste que criei o blog, nunca comprei um livro que fosse totalmente o contrário do que eu estava à espera e também tive a mesma sorte no que toca a filmes e séries. Fora isso, que são coisas que estão sujeitas às opiniões de cada um, ainda não senti necessidade de partilhar com vocês nada que eu não tivesse gostado. No entanto, tal como comecei por vos dizer, hoje estou chateada e tenho que partilhar com vocês o porquê: o filme Raw.
Lembram-se deste filme? Há alguns meses eram só notícias protagonizadas pela estreia do mais horrível filme de terror dos últimos tempos. Havia até registo de pessoas que tinhas desmaiado na sala de cinema ou vindo para a rua vomitar - na segunda hipótese até acredito. Bem, não sei bem o que me deu hoje, mas vi este filme. Na altura lembro-me de ver o trailer e ficar com aquela cara de "é só isto?" misturado com "que nojo". O sol brilhava lá fora por isso achei que estavam reunidas as condições para ver o filme. Qualquer coisa, se me sentisse a desmaiar era só manter-me pronta para carregar no stop.
O filme começou e lembrei-me doutra coisa sobre a história da qual já me tinha esquecido: é em francês. Digo isto com muito agrado. No secundário aprendi a ver filmes em francês - sou daquelas pessoas que acha sempre estranho quando não ouve falar inglês - e gostei da maior parte dos filmes que vi nos quais se falava esta lingua. No entanto, ouvir falar francês neste filme foi algo que me preocupou. Não sei se tenho uma impressão completamente errada, mas todos os filmes franceses que vi levam sempre as coisas um passo mais à frente. Falo aqui num passo mais à frente no sentido de parecer que não se preocupam com o politicamente correto. Fazem a arte deles, às vezes até extremo, e isso pode ter um resultado maravilhoso... ou desastroso.
Fiquei chateada porque este extremo - que mais uma vez, coincidência ou não, foi levado a cabo pelos atores franceses -, em RAW foi um total e completo desastre.
O primeiro ponto negativo do filme é o facto de não ser de terror e estar identificado como tal. Devia haver uma etiqueta chamada "nojo" e este estaria em primeiro lugar - ou vá, inserir na categoria de gore. Terror? Não acho, nem de perto nem de longe. É só sangue, sangue e mais sangue. É nojento, simplesmente. Cada cena pior que a anterior e ficamos sempre sem perceber qual o propósito daquele filme.
Quando penso em filmes que metem nojo, no sentido de sentir repulsa, lembro-me sempre da saga Saw. Já os vi todos e claro, acho-os nojentos. A diferença - e que me faz achar que até ao quinto filme, a saga do Saw é um bom trabalho cinematográfico - é que em grande parte dos filmes Saw há uma linha condutora. Basicamente, há uma história, com um propósito lógico - no sentido em que dentro daquela "psicopatisse" toda, queremos saber como se vão safar, quem vai morrer, quem vai sobreviver, qual o próximo "jogo".
Em RAW não sentimos nada disso. Não sentimos nada, para ser sincera. Ficamos ali, a franzir o sobrolho e quiçá a ter uns quantos vómitos. Quando me consegui abstrair da parvoíce que estava ver, enquanto trama, comecei a olhar mais para as personagens, de forma isolada.
Quando saiu a triologia das 50 Sombras de Grey uma das críticas mais comuns era a evolução totalmente inverosímil da rapariga que começa por ser uma puritana e na página vinte já soltou a franga. Em RAW temos uma situação parecida, mas para mim ainda mais impossível. Eu sei que isto se chama Sem Spoilers e eu não vos devia dizer isto, mas tem que ser, só para perceberem a minha linha de pensamento. Em RAW vemos uma jovem que nos primeiros dez minutos do filme é tão vegetariana que deixa de comer um prato de puré só porque encontrou um pedacinho de almondegas. No minuto onze, a mesma jovem vira canibal. Pois, exato, pensavam que eu vos ia dizer que ela tinha comido um hambúrguer? Não, come pessoas.
Porquê? Bem, não foi porque lhe apareceu um Grey, lindíssimo, em modo príncipe que se aproveitou do facto dela ser muito influenciável. Não. A menina vira canibal porque entrou para a faculdade. Exato. É isso e é horrível. É estúpido porque não há coerência nenhuma naquela história. Nem história há, é só um conjunto de cenas nojentas e extremas com os mesmo protagonistas para dar a ideia de seguimento, quando na realidade nada ali faz sentido.
Como se costuma dizer, ali não se aprendeu nada. Nem sequer fiquei com o coração a bater mais rápido, que dizem os amantes de filmes de terror que essa é a grande piada de ver um filme do género. Nada. Quando passaram os créditos até comentei com a minha mãe, ainda com um ar meio aparvalhado: "não fazes ideia da parvoíce de filme que acabei de ver".
A única razão pela qual eu vos diria para verem este filme seria para depois o comentarmos. Era giro encontrar-me com alguém que tivesse gostado, porque aquilo até pode ter ali uma grande mensagem por trás e eu é que não apanhei nada. Acho que não, mas pode acontecer.
Não vou dizer que é ridículo porque geralmente quando sou eu a dizer essa palavra digo-a em forma de elogio.
1/5
Maus filmes não são (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.