Não dei grandes opiniões na altura, limitei-me a ler as opiniões dos outros e ouvi de tudo. Aqui pelas internets fiquei surpreendida por ver tanta gente a concordar comigo e a adorar a canção. Gostei que tanta gente começasse a referir-se à postura do Salvador como "diferente" em vez de "esquisita". Apesar de não ser uma pessoa que gosta dessa tendência de rotular tudo - nuns casos gosto, acho que dá jeito, noutros não vejo necessidade - acho sempre que a palavra "esquisito" é sempre dita com desdém. Gostei de ver a abertura das pessoas a esta atuação.

No mundo real a coisa já foi um bocadinho diferente. Muita gente ainda não compreendia bem a canção e toda aquela performance, que para mim tem muito pouco disso e é precisamente aí que está o nosso ponto forte. Para outras pessoas com que me fui cruzando no mundo real, pessoas mais velhas que acompanhavam a Eurovisão com muito entusiasmo quando tinham a minha idade, não havia qualquer tipo de expectativa para as fases seguintes. Que a música não era "festivaleira", que não entrava no ouvido e que por isso ia ser só mais um ano em que Portugal se iria revelar um fiasco.

Escrevo-vos isto uma hora depois de ter visto a Semifinal e tenho que admitir que não estou nada surpreendida. Era impossível não passarmos depois daquela atuaçao. Eu tenho quase vinte e dois anos e nunca, mas nunca, me tinha sentado no sofá com os meus pais a ver esta ou qualquer outra fase da Eurovisão. Lembro-me de ver uma coisa ou outra em anos anteriores mas ou era berraria de meia noite ou era uma pimbalhada sem igual. Desta mesma forma, sei que muitíssima pouca gente da minha geração alguma vez prestou o mínimo de atenção à competição... até este ano.

As canções iam sendo apresentadas e ouvi o meu pai dizer várias vezes "estão a ver, esta canção ao pé da de Portugal dá muito mais nas vistas...". E provavelmente era verdade, o Salvador não grita, não tem fogo de artifício e nem sequer cantou no palco principal.... mas foi tão bonito.

Quando ele subiu ao palco fez-se silêncio cá em casa. Ninguém falou da roupa, do público ou do que estava a ser projetado no fundo. Fez-se tanto silêncio cá em casa como na própria arena do espetáculo. Depois da atuação fui dar uma vista de olhos pelas redes sociais e parecia que também se tinha feito silêncio em todas as casas que estavam a ver o programa. Se me dissessem que algum dia me iria emocionar com uma atuação da Eurovisão, chamava-vos malucos. Hoje aconteceu.

O rapaz é diferente e canta nas horas. A melodia parece feita para um filme de princesas. A Luísa Sobral escreve com mestria. Não sei se vamos ganhar mas acho que vai ser daquelas músicas - e atuações - que toda a gente vai lembrar daqui a dez ou vinte anos - e não vai ser só pelos portugueses!

Estou muito orgulhosa disto tudo, a sério que estou - sobretudo porque o nosso representante não se limita a meter-se de joelhos em palco e a brincar aos helicópteros com a trança. Também porque não quero menosprezar o momento, há que dizer que foi giro ver a Eurovisão com os meus pais, ao fim de vinte e dois anos. Quando penso no meu pai, que já me contou tantas vezes que quando tinha a minha idade os programas de referência eram o Natal dos Hospitais e a Eurovisão, não sei mesmo como é que ele vai lidar com o dia de sábado: o Salvador pode ganhar a Eurovisão, o Benfica pode ser campeão e o Papa vem a Fátima. Caraças! Para cima deles, Salvador! 

Amar pelos dois é (Sinónimo de) Carmezim.

Marta.