Entre o "olá outra vez" e o "é desta!"
Sabem aquelas pessoas que tentam combater um vício durante anos, tudo parece estar a correr às mil maravilhas, até que se dá uma recaída? Eu fui uma dessas pessoas, e durante anos - note-se, tenho só 21 - o meu vício era ser pesarosa, melancólica e, no fundo, triste. Achava tanta graça a isso, achava as pessoas que assim o eram tão fascinantes e hoje... bem, hoje riu-me dessa miúda, num misto de pena e gratidão por ela já ter percebido que, convenhamos, assim não dá.
Para combater esse meu vício recorria aos blogs. Já nem sei o número deste, se os formos contar como "tentativa 1", "tentativa 2" e por aí fora. Sempre fora esse o meu método: estás triste? Então escreve. Podia aqui romantizar a coisa, dizer que era uma espécie de escape, mas não. Na maior parte das vezes, eu estava assim, eu escrevia assim, porque queria. Gostava de me sentar sozinha em cafés a ler o Livro do Desassossego, gostava de tudo o que conseguisse ser mais sombrio do que aquilo que eu sabia ser. Eu, então essa pobre miúda, achava que só iria conseguir criar algo de que me orgulhasse - e mais, de que os outros gostassem - se fosse triste ou melancólico (deprimente, até) porque essas eram as únicas emoções que valiam realmente a pena ser sentidas.
Pobre miúda. Prova de que todo este método está errado? O momento da recaída - desisti de todos. Apagava e voltava a criar. Nomes diferentes, uns em nome próprio, outros com alter-egos (pseudónimos, claro, para me sentir mais próxima de me tornar tão torturada quanto o Pessoa). Tudo caiu no pior dos esquecimentos: no meu próprio.
No ano em que me licencio na Faculdade de Letras de Lisboa, em que vou estagiar, começar o mestrado, começar a trabalhar, em que me vou mudar e arranjar um cachorrinho para me aquecer os pés quando o meu namorado não puder... acho que não haveria mesmo melhor momento para recomeçar a fazer algo de que tanto gosto, gostando hoje tanto de mim e dos que me rodeiam.
Hoje, regresso aqui com a vontade de gritar "é desta!". Ao fim de talvez 3 anos após a minha última tentativa, vou experimentar um novo método: e se eu experimentar escrever, estando feliz? Estando a saltar para fora de mim própria de feliz? Aquele feliz que pode correr o risco de meter nojo, porque as coisas até estão a correr como se quer? É que se há uns anos havia uma miúda que apelidavam de gótica e que metia nojo de zangada com o mundo - vá-se lá saber porquê - hoje olho para mim como uma mulher feliz, que não mete menos nojo por isso. Suponho que essa seja realmente a minha cena: meter nojo. E neste cantinho, mesmo que seja só o meu namorado e a minha mãe a ler, espero meter nojo durante muito tempo.
E sim: o nome é mesmo com Z.
Vamos ser felizes aqui, sim? É desta!
Eu sou (Sinónimo de) Carmezim
Marta