Sobre quem nos ensina
Até estou nervosa por escrever este post e a sério que não quero ferir susceptibilidades. Mas também é tão verdade que preciso de desabafar e dizer uma coisa ou outra que me ficou aqui entalada desde ontem. Estas palavras não são uma generalização: surgem somente por causa uma situação específica que se passou comigo. Essa situação deixou-me a pensar e este post corre o grande risco de ser apenas um grande monte de pensamentos, meios revoltados, meio desiludidos. Aqui vai nada.
Durante toda a minha vida tive a sorte de ter grandes professores. Obviamente que tive alguns que mais valia terem escolhido outra profissão, mas na grande maioria sou uma daquelas alunas muito sortudas. Ao longo do meu percurso escolar e até académico deparei-me com aquelas injustiças que até nos deixam mal dispostos, professores cujos métodos, opiniões e formas de ensinar não permitiam que me identificasse com eles. No entanto, sempre dei a volta à questão da melhor maneira. Sempre fiz o esforço e mesmo quando não concordava com algo, tentava sempre ir ao encontro daquilo que os professores procuravam. Sempre um bocado naquela esperança do "se calhar eles é que sabem melhor e talvez daqui a uns anos esta forma de olhar as coisas até me vai parecer a certa." Em relação a umas coisas, isso aconteceu... outras, continuo a ver azul onde eles viam verde.
Depois houve aquele momento fatídico na minha vida: chumbei a uma cadeira. Tive uma negativa e chumbei. Para aqueles leitores mais antigos, que viveram esse momento comigo (está agora a fazer um ano!), sabem que o dia em que recebi esta notícia foi um dia negro no meu 2017. Sabem também que os nervos durante as semanas que se seguiram foram uma autêntica dose que dava para mais dez pessoas. Também sabem da alegria que foi ter passado no exame e ter arrumado com esse professor que, ainda hoje achando que fui injustiçada, foi obrigado a dar-me razão na pauta.
Depois disso veio o mestrado. Lá tive as minhas dificuldades ao início, mas lá encontrei o meu caminho: tudo, graças aos grandes professores que tive e tenho. O mestrado é, realmente, outra coisa. Se na licenciatura achamos sempre que os professores nunca chegam sequer a saber os nossos nomes (normal, somos tantos numa só turma!) e que estão ali rés-vés a marimbar-se para nós... no mestrado (no meu, pelo menos) é precisamente o contrário. Aconselham-me constantemente, estão sempre disponíveis, dão a opinião deles, mas nunca me prejudicaram por não concordar com eles. Embora no semestre passado tenha chegado mesmo, pela primeira vez na minha vida, a discutir com um dos meus professores, nem mesmo aí senti que no final tivesse sido julgada ou mal interpretada por nenhum deles. Esse professor, com quem discuti o semestre passado e que (mais uma vez) me fez perguntar se deveria desistir do mestrado, é hoje um dos professores de quem mais gosto e que mais me influencia.
Mas nem tudo pode ser incrível e maravilhoso, não é? Como é óbvio que teria que apanhar um daqueles professores de quem se fala sempre, tipo mito urbano, que nos arrasta pela lama sem percebermos bem porquê - especialmente quando fizemos TUDO para ir ao encontro da sua visão. Pelos vistos, há SEMPRE um desses. E isso é um perigo pelas mais variadas razões, mas sobretudo porque depois de tanto esforço, pesquisa e dedicação, temos que ouvir várias coisas - para não dizer pior - que não entendemos de onde vêm.
Uma das coisas que caracterizam a academia, as universidade, é o facto de terem nos investigadores os seus pulmões, as suas bolsas de oxigénio. Tudo muito bem: ainda bem que existem pessoas que se preocupam com o avanço do conhecimento, que se importam em investigar, escrever e comunicar com o resto das pessoas (geralmente, outros académicos), os seus pontos de vistas e as suas "descobertas". Podem ser investigadores absolutamente incríveis... mas isso não quer dizer que sejam talhados para ensinar os outros, numa sala de aula.
Tudo isso ainda se agrava mais se esse investigador/professor não for capaz de reconhecer que existam outras áreas para além daquela em que se especializou, possíveis de discutir e interpretar dentro do mesmo seminário. Pior ainda do que não conseguir tirar essas palas dos olhos é críticar o outro, dizer que fez um trabalho menos bom, só porque não conhece determinada realidade. E por isso, tudo o que não conhece é uma confusão aos seus olhos.
Isto de tentar não ser muito específica é um bocado complicado, mas acho que estou a fazer-vos chegar da melhor maneira o meu ponto. Eu levei para sala de aula um caso de estudo que é, na verdade, uma grande confusão: mas é uma confusão que existe no mundo real, no mundo do trabalho na área da museologia e do património. Não estou a dizer que tenho mais experiência que algum professor (seria muito mau sinal), mas quando se passa muito tempo em investigação, podem-se esquecer vários problemas que acontecem no dia a dia das profissões nesta área.
Se é confuso? Bastante, mas foi precisamente por isso que decidi escolher esse caso - porque achei que levantaria uma discussão interessante. O que não achei é que essa discussão nem sequer começasse, que não se desse valor à minha pesquisa, só porque quem ensina não fez esforço para compreender. Não quis compreender. E isso é chato, porque mesmo num mestrado, os alunos continuam a precisar das notas - das notas adequadas ao seu esforço e dedicação e não proporcionais à sua aproximação (ou, neste caso, distanciamento) das áreas de quem ensina.
Pensamentos soltos, mas meio revoltados são (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.