Enganam-se aqueles que acham que o post que estão prestes a ler não vai falar, literalmente, das pulgas de um cão de alguém. Vai mesmo. Esse é o tema real e central desta história, não é nenhum eufemismo nem nenhuma metáfora - até porque se fosse, não era lá muito bonita de se ler. Quem é essa ela, dona do cão, perguntam vocês? Eu também não sei. E é precisamente por não saber quem é, mas saber que o cão tem pulgas, que quero desabafar convosco aqui no blog.
Ando de autocarro todos os dias da semana, à exceção - para bem da minha sanidade mental - do sábado e do domingo. Durante os restantes dias da semana faço quatro viagens diárias: duas de manhã e duas ao fim do dia. Parece muito? Isso é porque é mesmo. Parece horrível? Isso também é porque é mesmo. Ainda por cima, como apanho os mesmo autocarros todos os dias - se o canídeo da minha rua não me apavorar, obrigando-me a perder o autocarro - tenho o azar de estar sempre naqueles únicos que não têm internet. Nem assim me consigo distraír do que se vai passando à minha volta.
Acho que não é preciso estarmos a falar daquela queixa que, embora legítima e ainda relevante, já é clássica: as pessoas que desconhecem a existência dessa invenção maravilhosa que foram os fones. Achei durante muito tempo que isto era um problema das novas gerações - estando, em muitos casos, a minha própria ainda incluída - mas depois de um verão a andar de transportes públicos descobri que, neste caso, a idade não importa nada. À pala de um senhor nos seus setentas, que apanha um dos autocarros em que vou, já tenho um vasto conhecimento naquilo que me parece ser música coreana.
Já muitas vezes me auto caracterizei aqui como sendo uma pessoa que, em certas coisas desta vida, pode ser de extremos. Tudo é muito muito - embora menos do que era antes. Há momentos em que consigo levar as coisas com calma, respirar fundo e deixar-me ir com a onda. Há vezes até em que vejo algo e digo apenas "uau, muito bom mesmo!", sem entusiasmos excessivos capazes de causar surdez na pessoa do lado. Não é por gostar menos do que, sei lá, o Titanic, por exemplo - é mesmo porque, naquela altura, consegui olhar para algo com o distanciamento com que as pessoas normais olham para as coisas.
Há vezes, portanto, em que consigo pôr o lado mais racional do meu cérebro a trabalhar. Noutras, nem por isso. No que toca aos animais e outros obstáculos com que me vou cruzando no meu caminho para casa, já sabem - são sempre posts que vocês adoram que eu partilhe - que o lado emocional fala mais alto. Na maior parte das vezes acho que o facto de ser uma pessoa extremamente sensível e emocional é uma das minhas maiores qualidades. Nestes casos, especialmente se houver um autocarro à mistura, o ser sensível, emocional e consequentemente não-assim-tanto-racional pode prejudicar a sério. Eu disse a semana passada que vos contaria esta história e aqui está ela.
Que o país quase pára quando há feriados, já todos sabemos. Que, caso houvesse um pseudo-feriado por causa da vinda do Papa, o país ía parar, também não é novidade para ninguém. Mas porra, para isto eu não estava mesmo preparada.
Confesso, quando soube que íamos ter cá o Papa Xico, fiquei logo a pensar que gostava de ir. Em 2007 tive a sorte de ir com a escola até ao Vaticano e tivemos uma audiência com o Papa Bento XVI. Também sou daquelas que, quando se fala no Vaticano e na excessiva grandiosidade de cada recanto e de cada membro da igreja que vemos por lá, fica um pouco céptica em relação ao facto de ali, a igreja parecer sobretudo uma máquina de fazer dinheiro. No entanto, não deixou de ser uma experiência fantástica. Fui educada no seio da fé católica e apesar de todos os defeitos que se possam apontar, também tem coisas muito boas que já me ajudaram muito e um dia vou criar também assim os meus filhos. Para além disso, apesar de não ter sido o meu Papa preferido, o senhor foi muito simpático.
Tal como todos vocês já sabem - foram tantos os posts em que me queixei disto -, tenho que andar em autocarros da carris nos dias em que vou trabalhar. Tal como partilhei com vocês também, a minha adaptação à nova rotina do estudar e ter o estágio foi um bocadinho complicada para o meu sistema nervoso, sobretudo por causa do tempo. Acho que nunca consegui chegar a horas, aquele verdadeiro a horas que eu tanto tento perseguir - mas que me foge sempre. Ou estou lá uma hora antes, ou quinze minutos depois. Já fez mês e meio que lá estou e percebi que tinha que me mentalizar disto.
Felizmente, tenho a sorte de trabalhar num sitio onde compreendem que não moro ali ao lado e desde o primeiro dia que me deixam mais do que à vontade para não andar com esses stresses. Eu no fundo ainda os tenho, mas estão mais controlados porque é uma coisa que foge realmente ao meu controlo. Comecei a preocupar-me mais com o ser o mais produtiva possível quando lá estou, e na realidade, é isso que importa.