Não costumo utilizar o blog para falar muito sobre a minha área profissional. Ainda que muitas vezes me apeteça mandar aqui uma laracha ou outra sobre o tema, quando aparecem algumas notícias que me dão a volta à barriga, contenho-me sempre. Em primeiro lugar, porque gosto sempre mais de falar de coisas positivas por aqui. Em segundo lugar, porque já sinto que passo tanto tempo envolta nesses temas, que às vezes sinto que faz bem à sanidade mental termos um espaço para falar sobre outras coisas. No entanto, o post de hoje é diferente porque, em fim de semana de Dia Internacional dos Museus, tenho um convite muito especial para vos fazer!
Enquanto estou em casa tento ter algum tempo reservado para trabalhar. Escrever no blog, responder a emails, tirar fotografias, fazer trabalhos da faculde - tudo isso é entendido como trabalho que devo fazer enquanto estou em casa. Basicamente, é uma forma de aproveitar enquanto não tenho um trabalho fora de casa, das 9h às 17h, que vai fazer com o tempo que dedico a tudo o resto seja menor. E depois com isso vêm os nervos. Depois a ansiedade de estar a ficar para trás. Depois as insónias. Depois um choro ou outro. É uma bola de neve, por isso há que aproveitar enquanto as coisas estão calmas. Para contribuir para essa "calmaria" toda enquanto trabalho, está o Spotify.
São 16h27. Estou com dores de barriga há pelo menos duas horas e o meu estômado só dá voltas e mais voltas. Apesar do frio estou a transpirar enquanto tenho as mãos e os pés gelados. Devem estar aí a pensar que pelos meus sintomas poderiam pensar que estou com um gripe, que estou terrivelmente doente e logo a dois dias do natal. Desenganem-se: é só uma carga de nervos gigante a sair-me de cima dos ombros.
Eu torturo-me com nervos. Cada vez tenho mais a certeza disso. Passei as duas últimas horas a pensar em tudo o que poderia correr mal na minha primeira chamada via skype. Chamada não: entrevista, daí tantos nervos, porque se fosse para ver a carinha laroca do meu Rapaz o meu estômago não estava neste estado lastimável.
Uma vez disseram-me "os homens não compreendem que às vezes as mulheres precisam duma discussão ou outra". Fiquei para lá de baralhada quando me disseram isto, sobretudo porque foi dito por uma mulher. Nunca percebi bem essa coisa de quando as coisas estão "demasiado bem" uma das partes começar a inventar problemas onde eles não existem. Faz-me lembrar coisas do meu tempo do Hi5, em que se tudo estivesse bem discutia-se sobre o top dos melhores amigos no perfil.
Para mim isso nunca fez sentido. Sou uma pessoa de muito mimo, de muito amor, que não gosta de terminar o dia sem um abraço bem dado. Aliás, para quem não tenha muita paciência, posso até passar por carente. Também já achei que o era, e achava que isso era uma horrível e que nunca ninguém iria ter paciência para aturar o facto de eu ter um minimo de mimo diário a ser cumprido - coisas de pita parva e (ainda mais) dramática. Hoje não acho que seja carente, sobretudo porque essa palavra tem sempre uma carga negativa agarrada. Acho que esse meu lado tão emocional é, na maior parte das vezes, uma das minhas maiores qualidades.
Passaram agora cerca de 24 horas desde o último post em que vos falei do quão nervosa estava para o meu primeiro dia no mestrado. Os nervos mantiveram-se praticamente até à hora de entrar na sala. Continuaram quando me meti no autocarro depois do trabalho e dei por mim presa no trânsito, já a ver que ia ser a única a chegar atrasada. Depois, os nervos puseram-se a transpirar quando lá cheguei porque, em primeiro lugar, a sala era no sexto andar - e fui a pé, só por si um exercício - e quando lá cheguei não havia meio de encontrar a sala.
Havia meia dúzia de portas duplas, todas fechadas, que eu tive medo de abrir porque parecia que estavam ligadas ao alarme. Imaginam a barraca que seria eu disparar os alarmes de uma faculdade no meu primeiro dia? Pois, não era nada agradável. Para evitar situações embaraçosas fiquei ali de plantão ao cimo da escada, a fazer um daqueles scrolls em que não vemos nada em concreto, até ver alguém chegar. Nisto, faltavam 10 minutos para a aula e eu ainda sem saber onde estava.
Já muitas vezes me auto caracterizei aqui como sendo uma pessoa que, em certas coisas desta vida, pode ser de extremos. Tudo é muito muito - embora menos do que era antes. Há momentos em que consigo levar as coisas com calma, respirar fundo e deixar-me ir com a onda. Há vezes até em que vejo algo e digo apenas "uau, muito bom mesmo!", sem entusiasmos excessivos capazes de causar surdez na pessoa do lado. Não é por gostar menos do que, sei lá, o Titanic, por exemplo - é mesmo porque, naquela altura, consegui olhar para algo com o distanciamento com que as pessoas normais olham para as coisas.
Há vezes, portanto, em que consigo pôr o lado mais racional do meu cérebro a trabalhar. Noutras, nem por isso. No que toca aos animais e outros obstáculos com que me vou cruzando no meu caminho para casa, já sabem - são sempre posts que vocês adoram que eu partilhe - que o lado emocional fala mais alto. Na maior parte das vezes acho que o facto de ser uma pessoa extremamente sensível e emocional é uma das minhas maiores qualidades. Nestes casos, especialmente se houver um autocarro à mistura, o ser sensível, emocional e consequentemente não-assim-tanto-racional pode prejudicar a sério. Eu disse a semana passada que vos contaria esta história e aqui está ela.