Tipo seleção nacional
Vivo numa casa onde o futebol é um assunto muito presente. O meu irmão tem, diz quem percebe, muito jeito para a coisa e por isso, sempre me habituei a ir ver os jogos dele. Por seu lado, o meu pai foi treinador durante vários anos na equipa da nossa terra e agora é possivelmente uma das pessoas mais ativas no dinamismo do clube local. Depois, temos o Benfica. Sei, sem querer, o hino de uma ponta à outra e até sei fazer uma imitação quase perfeita do Luís Piçarra, tantas foram as vezes que ouvi essa música. Escusado será dizer que o benfas também é uma presença muito forte lá por casa.
Apesar de tudo isto, nunca liguei muito ao futebol. Gosto de ver jogos importantes, e o campeonato europeu do ano passado foi toda uma experiência nova para mim - nunca teria imaginado que futebol, super bock e muitos amigos à mesa pudesse ser sinónimo de um ótimo programa de verão! No entanto, não sou nenhuma entendida, nem nada que se pareça - mas já consigo ver um fora de jogo, se for daqueles escandalosos!
O meu Rapaz, para se juntar a esta festa, também adora futebol. Às vezes gosto de ficar a ouvir o entusiasmo com que ele fala de um treino ou das saudades que tem de jogar. Fala-me das noites loucas de comemorações de quando foi campeão, de quando subiu de divisão ou daquele jogo em que a sua presença em campo valeu por três ou quatro. Também fala com alguma mágoa de todas as vezes que foi prejudicado, que não o deixaram mostrar o seu potencial e de como gostava de ter tempo para poder continuar a jogar. E eu ouço, porque adoro que ele partilhe todas essas história que são tão suas.
De todas as equipas de que ele me fala, há uma que me parece ter um lugar especial no seu coração - a equipa da sua faculdade. Hoje, infelizmente, o meu Rapaz já não joga com eles mas não é por isso que se sente menos parte da equipa. Em tom de brincadeira, costumo dizer que cada rapagão daqueles é uma das suas outras namoradas, com quem tem de beber aquele café semanal, um almocinho ou beber umas imperiais no Arco do Cego.
Nunca tendo feito parte duma equipa, é bonito de ver tanta cumplicidade num grupo de rapazes, que sendo tão diferentes uns dos outros são uma autêntica família. Por essa razão, estava, no mínimo, intimidada quando fui conhecer alguns membros desta equipa, precisamente por saber a importância que eles têm na vida do meu Rapaz. Apesar de - naqueles dias em que já reservei o meu Rapaz previamente - me cortarem um bocado na casaca no grupo da bola no Whatsapp, eu gosto muito deles e acho que é recíproco. Um ano depois, é bom já poder dizer que alguns são meus amigos também.
Na passada quinta-feira, foi a final do campeonato universitário em Lisboa e - obviamente - a equipa do meu Rapaz ia disputar este jogo. O ano passado, estive nas bancadas a apoiar a equipa. Este ano, com a cara mais triste do mundo, o meu Rapaz esteve ao meu lado na bancada a gritar pelos amigos e colegas de equipa. Horas antes do jogo, ele nem falava. Estava mais nervoso do que se fosse jogar e, independentemente do tempo que passe, há-de ser sempre um dos traços dele que vou mais gostar. Esse grupo do Whatsapp ficou inundado de mensagens de incentivo de membros da equipa que já não jogam, que nem sequer estão no país mas que não se esquecem dos colegas num dia daqueles. Durante o jogo, houve tambor, houve claque, houve palavrões e acima de tudo muito apoio.
Durante uns minutos antes do jogo, o meu Rapaz juntou-se à sua equipa e ouviu com eles as palavras de incentivo do treinador. Eu fiquei cá atrás, a ver aquela cena. Tendo já visto alguns membros daquela equipa em registos tão diferentes daquele, foi bonito ver o quanto aquilo significava para eles. Depois disto, o meu Rapaz chegou ao pé de mim de lágrimas nos olhos por não poder estar em campo com os amigos.
O jogo começou e foram gritos durante 90 minutos inteirinhos. A coisa não corria bem para o nosso lado e, até eu - que não sou nada dessas coisas - tive vontade de gritar uma palavra de apoio aos rapazes que agora começava a ver de cabeça caída. No final, a coisa não correu bem para o nosso lado. "Vá puto, toma lá um cigarro." - ouvia-se repetir em vários pontos da bancada. Um abraço aqui, um calduço ali, um "tinhamos que perder algum dia" acolá. Dei um abracinho àqueles que são já meus amigos sem dizer uma palavra, porque quando o ano passado tive que ver o meu Rapaz perder, aprendi que tudo o que se diga lhes vai parecer inútil naquele momento. O meu Rapaz consolava os colegas o melhor que podia, mas eu sabia que ele também precisava de um abraço.
Para quem nunca percebeu futebol nem nunca pertenceu a uma equipa, este foi um dia - no mínimo - emocionante. Eles costumam dizer que na equipa deles só se entra, e acho que mesmo não conhecendo nenhum deles se consegue perceber isso.
Eles perderam. Mas foi bonito.
Comentários futebolísticos são (Sinónimos de) Carmezim.
Marta.
