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(Sinónimo de) Carmezim

(Sinónimo de) Carmezim

06
Mai17

Tu tens é muita mania!

Desde que me ensinaram a escrever que adoro fazê-lo. Já vos falei aqui em alguns posts de como, durante muito tempo - e se calhar em certas situações continuo igual -, eu ou era a melhor ou nem sequer tentava. Fazia-me impressão, essa coisa de experimentar algo sem saber se vamos falhar. Não percebia como é que tanta gente fazia isso. E se gozassem comigo? E se eu caísse? E se me ralhassem? Agora imaginem estas perguntas a gritar aos ouvidos de uma criança de seis anos. Esta é daquelas coisas que não posso apontar o dedo a ninguém. Não posso escolher um momento na vida e dizer "foi aqui que tudo começou" ou "foi por causa de pessoa X que comecei a pensar nestas coisas". Fui eu, sozinha, que tão pequenina fomentei em mim o medo de falhar. 

 

Mas isto tudo a propósito de aprender a escrever. Estava talvez no segundo ano e lembro-me que a maior alegria da minha vida era ser das melhores a ler e a escrever. Lembro-me que gostava de ajudar os colegas que tinham mais dificuldades porque não queria que os meninos maus tivessem desculpa para gozar. Era isto que me fazia querer ir para a escola - mais especificamente, para as aulas - todos os dias. Houve um dia em que a professora nos deu uma pequena banda desenhada da Formiga e da Cigarra e pediu-nos para escrever uma história ao olhar para os desenhos. Se tivesse o mínimo de jeito, ainda hoje conseguiria reproduzir aqueles bonecos - nunca mais me sairam da cabeça. Escrevi e lembro-me de que quando pus o último ponto final, senti algo incrível. Estava mesmo orgulhosa do que tinha feito. Resultado: fui para o placard da sala e esse foi para mim, naquela altura, o melhor dia de sempre. 

 

A partir daí veio a melhor bola de neve de todos os tempos. Percebi que se tirasse o tempo suficiente para o fazer, conseguiria repetir essa sensação que senti quando escrevi aquela composição. Ia conseguir sentir isso sempre que me orgulhasse de algo que tenha escrito. Houve aqueles momentos em que escrevi só porque sim - sobretudo em dias maus -, usando só o bloco de notas do computador ou umas frases soltas num caderno durante uma viagem de metro... mas nada se comparava a terminar de escrever algo e pensar "nem quero saber se mais ninguém gosta, eu adoro o que acabei de criar." Também já houve momentos em que reli coisas que escrevi há anos e fico com a maior vergonha alheia do mundo - e digo alheia porque às vezes nem me reconheço naquelas palavras - mas sei que na altura, senti essa satisfação com certeza. 

 

Todos os dias sinto isso aqui no blog e muitas vezes sinto isso também na faculdade... mas já senti mais. Quando entrei para a faculdade, levei um estalo da vida. Ela ficou à minha frente, deu-me dois estalos e com o maior ar de gozo do mundo disse-me "acalma-te. Não és isso tudo, menina." E rapidamente me apercebi disso. 

 

Com a faculdade, ainda que a medo, comecei a achar que era muito melhor a comunicar oralmente do que a escrever e isto foi algo que me despedaçou o coração. Simplesmente não entendia como é que aquilo que para mim foi, tantas vezes, a única coisa que eu conseguia fazer bem, era agora não só destronado do lugar central como também - e aqui cheguei mesmo a ficar ofendida - questionado. Lembro-me de um teste, de Cultura Moderna, em que a professora deixou uma nota a dizer "português deficiente". Estive a isto de ir à reitoria para pedir o livro de reclamações. 

 

Felizmente, fui ganhando calo e percebi que não podia ficar a chorar. Mais valia aceitar os factos e perceber que talvez, em contexto académico, não escrevo assim tão bem - estão a ver, eu tento, mas só de escrever estas palavras fico toda arrepiada. Comecei a apostar mais nas apresentações e nos powerpoints para ganhar... points. Fui-me sempre safando muito bem mas parece que agora, a um mês de me licenciar, estou a ficar frustrada outra vez. 

 

No último mês tive que entregar duas recensões críticas: uma para Comunicação Intercultural e outra para Fantasia e Ficção Científica de Expressão Inglesa. A primeira, nem vale a pena falar. Um desastre. Só entreguei porque... pronto, o dia tinha chegado. Mas neste caso, tudo bem, a culpa era minha! Deixei tudo para a última da hora e li o texto a ser criticado e escrevi a minha crítica um dia antes da data de entrega. Claro que a nota vai ser fraca, mas aqui não podia espernear. 

 

Agora, não me digam para ter calma quando se fala na segunda recensão crítica. É certo que não fiz um pré-trabalho fantástico, mas já foi melhor. Comecei a ler o texto a ser criticado uma semaninha antes da data de entrega. Tudo ok. Comecei até a gostar do texto. Tudo ainda melhor. Começo a escrever e parece que as palavras fluem. Tudo fantástico. Quando pus o último ponto final, lá veio aquela sensação arrebatadora de orgulho pelo que tinha conseguido criar. Estava mesmo orgulhosa! - tanto, que ponderei publicar aqui, não fosse a falta de contexto, por isso imaginem!

 

Hoje, enquanto estava no estágio, recebo uma mms no Whatsapp. Era uma colega de turma que muito amavelmente me enviou a nota da minha recensão. O que é que aparece no cantinho da folha? Um 12. Um, dois. Doze. D-O-Z-E. Não estivesse eu no estágio e tinha mandado três berros. Nem queria acreditar. Depois disto senti-me só parva e com muita mania que escrevo bem. Mania que sequer digo algo de jeito. O que vale é que só falta um mês para sair do "contexto académico" porque o meu coração não aguenta mais facadas destas. 

 

Ter a mania que escreve é (Sinónimo de) Carmezim.

Marta.

 

 

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Sinonimo de Carmezim

Sou a Marta e gosto de escrever umas coisas de vez em quando.

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