Uma ligeira comichão
(Imagem: Observador)
Não gosto de falar de coisas de que não gosto. Para começar, não gosto de lhes dar atenção e muito menos gosto de as arrastar aqui para o blog e "perder tempo" a falar de algo que me deixa aborrecida. Contudo, já quebrei essa regra aqui algumas vezes ao longo deste ano e meio de blog. Às vezes é inevitável não falar de algo que achamos completamente estapafúrdio. Às vezes é difícil ignorar a comichão que determinado assunto, pessoa, moda, opinião ou situação nos provoca. Hoje, esperando como sempre não ferir susceptilidades, é uma dessas vezes.
Da mesma maneira que já falei aqui de coisas que me aborreceram/aborrecem, também já partilhei pequenos pormenores sobre a minha relação próxima com a música, desde pequena. Também já falei aqui uma vez ou outra de como algumas das minhas melhores memórias da infância/adolescência são de concertos ao vivo. Não sei é se alguma vez vos contei que a primeira banda por quem fui realmente louca foram, nada mais nada menos, que os Tokio Hotel.
Como é que parti daí para o excelente gosto musical que tenho hoje? Bem, foi uma caminhada que para mim foi completamente normal. Eu sabia TUDO sobre cada um dos membros da banda, dirigi um site de fãs que teve bastante sucesso na altura e escrevi uma história com mais de 100 capitulos que coloquei online (no Hi5!) protagonizada pelos membros da banda. Sendo eu, como podem ver, uma daquelas seguidoras assustadoras que foi de madrugada para a porta do então Pavilhão Atlântico, também sabia de cor e salteado quais as bandas que, segundo os Tokio Hotel, mais os inspiravam: Guns n' Roses, Led Zepplin e Pink Floyd eram alguns desses nomes.
Pode até ser anedótico para algumas pessoas que há uns 15 anos atrás estes miúdos dissessem que as suas inspirações para fazer a música que então faziam eram essas três bandas lendárias, mas para a Marta da altura isso não era nada estranho. Nem sequer conhecia as outras bandas... até que as fui ouvir. A partir daí, foi uma bola de neve. Os Tokio Hotel, ironicamente, foram a banda que me fez conhecer outras taaaaantas bandas, de qualidade muito superior à deles, e que me fizeram alargar os meus gostos a toda a panóplia de artistas que hoje ouço regularmente.
Hoje ouço as músicas que me faziam vibrar há mais de dez anos e já não me dizem absolutamente nada. Já nem sequer consigo gostar muito da voz do meu então querido Bill Kaulitz. Ainda assim, consigo compreender - sem qualquer vergonha disso, visto que ficaram para sempre associados a um certo preconceito de "banda de pitas histéricas" - que os Tokio Hotel foram uma das bandas mais marcantes da minha vida.
Digo isto porque protagonizaram momentos muuuuuuuuuitos felizes na vida de uma Marta pequenina. Fiz muitas amigas graças ao clube de fãs e às horas intermináveis nas filas. Pude vê-los, graças aos meus ricos paizinhos, de todas as vezes que vieram a Portugal - até daquela em que o concerto foi cancelado e eu fui até ao Algarve a chorar. Aprendi também naqueles concertos o que é a sensação incrível de ver artistas de quem se gosta tanto entrar num palco, sensação essa que nunca mais "desaprendi" e que continuo a sentir sempre que vou a um concerto. As memórias de duas horas de concerto em que era só um público completamente em extase e uma banda a tocar e aquela convicção que em determinada música alguma membro da banda acenou para mim. Ficou cá tudo.
Podia continuar a lista de coisas incríveis que acontecem quando assistimos a um concerto. Obviamente que nem toda a gente pode viver isso com a mesma intensidade, mas acho que há sempre qualquer coisa de incrível quando se vê e ouve um artista ao vivo. Quer se goste MUUUUUUUUUITO, ou quer se goste mais ou menos. Pelo menos é assim que eu vejo as coisas, sobretudo porque os concertos estão cada vez mais caros e por isso, há que pelo menos assistir ao espetáculo por que pagámos.
O que é que toda esta história da carochinha tem a ver com algo que me aborreceu? Tudo. Tenho acompanhado atentamente as várias reportagens ao MEO Sudoeste porque tenho lá um primo que quando vê uma câmara quer vir logo ser entrevistado. Tenho visto tudo para ver se o vejo a ele, até porque o festival MEO Sudoeste, mesmo quando eu andava mais ativa nessa vida dos festivais de verão, nunca foi um tipo de festival que me puxasse muito.
Ora, hoje de manhã tenho o desprazer de assistir à entrevista de uma jovem que dizia estar a adorar o convívio, que estavam ali todos uns para os outros. Tudo muito bem, que essa é sem dúvida uma coisa boa de se acampar num festival. Adiante. Visto que a entrevista teve lugar num FESTIVAL DE MÚSICA, o jornalista acha nada mais que normal e aceitável perguntar o que tinha esta jovem achado do concerto que - ele sublinhou - tinha terminado HÁ DEZ MINUTOS. "O quê? A música? Não me lembro!". Perplexo, o jornalista volta a repetir que o concerto tinha terminado há dez minutos. "Pois... olhe, não me lembro de música nenhuma, mas de certeza que foi bom!".
Bem................... perante este testemunho, conseguem sentir daí a "ligeira comichão" que isto me provocou?! Na minha opinião, há tanta coisa errada aqui e sinceramente não sei qual a pior. Claro que a jovem poderia não gostar do artista que tinha acabado de tocar há dez minutos, mas honestamente, esta resposta fez com que os meus olhos me rolassem para a nuca. E isto sou eu já a dar o benefício da dúvida, porque se eu fosse uma mãe ou um pai que deu não sei quantos euros para a minha filha ir para um festival de música e sair de lá a dizer que o convívio é que foi incrível, no ano seguinte inscrevi-a num campo de férias ou algo do género.
Tenho a certeza que houve muita gente a assistir e a vibrar com os concertos do primeiro dia do festival, basta ler algumas reviews do concerto de Piruka, mas não consegui deixar de pensar que a outra metade está lá com esta atitude. Muito se pode falar da questão dos telemóveis, das redes sociais e de agora já ninguém assistir a um espetáculo como se assistia "antes" - até eu já fiz um post sobre isso depois de ter ido o ano passado ao NOS Alive -, mas achei que isto era outro nível. Estar ali o artista ou ser um daqueles miúdos a carregar no play numa coluna no meio do parque de campismo, o efeito é o mesmo. Claro que cada um é fruto do mundo em que vive, mas porra... foi duro de ouvir.
Tokio Hotel foi (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.