Vamos falar sobre TPM
Há muita coisa que me irrita nas mulheres. Aliás, um dos meus posts preferidos que fiz aqui no blog foi precisamente no dia da mulher a manifestar essa irritação, essa urticária, essa alergia a mulheres que das duas uma: ou estão sempre a ralhar com tudo e com todos, a queixarem-se de como a vida é uma merda só porque se nasceu com uma vagina; ou então, são aquelas que dizem que ter nascido com uma vagina é a melhor coisa do mundo, que somos seres sobrenaturais. As duas perspetivas dão-me alergia porque nenhuma delas corresponde à realidade. É como se estes dois grupos de mulheres vivessem num mundo paralelo.
Não me interpretem mal: eu adoro ser mulher e acho que somos verdadeiramente incríveis. Todos os dias, quando olho com a atenção, reparo que desde que nasci que estou rodeada por grandes exemplos de mulheres nas mais variadas vertentes da vida. Por essa mesma razão, "sempre" ouvi a minha rica mãezinha e ela sempre me disse que a palavra-chave da vida é "equilíbrio". Como tal, sei que estes feminismo - tanto o demasiado negro como o demasiado cor de rosa - são ismos muito extremos e irrealistas.
Esta necessidade de falar sobre isto surgiu por causa de duas conversas: uma em que eu participei e outra que - sem querer, juro! - ouvi num desses autocarros da Carris, sempre tão ricos em histórias caricatas. Esta conversa que eu ouvi - volto a repetir, só porque estava no banco em frente das proganistas de hoje! - passou-se entre duas miúdas que não deviam ter mais de 16 anos. Pela conversa devem ser muito amigas e passar muito tempo juntas, coisa recente, porque vieram o caminho todo a falar de como é "tipo, tsão giro!" terem sincronizado as menstruações. Pior que tudo, elas estavam a achar genial, quase a dar gritinhos histéricos por supostamente sofrerem as duas de TPM, e agora ia ser "tsipo, tsão mais giro, porque assim ficamos esfomeadas e amuadinhas ao mesmo tempo! ihihihih".
Sinceramente, tive vontade de me virar para trás e perguntar se estava tudo bem com elas. Agora enquando reflito bem sobre aquilo que ouvi nem sei bem por onde começar a explicar o quanto discordo de cada palavra que foi ali dita.
Em primeiro lugar só na teoria é que deve parecer a alguém "bue gira" a ideia das mulheres sincronizarem o periodo. Aliás, com a idade delas eu achava simplesmente que isso era um mito urbano, até ter ido para a faculdade viver com mais seis raparigas. Digo-vos, não só não é mito urbano como graça é o que aquela casa tinha menos quando chegava essa altura do mês. Uma ia ao supermercado comprar massa com atum e aparecia em casa com ingredientes para fazer crepes e potes de nutella. Uma desgraça.
Depois - e o que me chocou mais - foi terem falado de TPM. Só descobri o que isso era a partir dos 20's, porque antes disso nunca senti nada desses sintomas de se ficar chata e insuportável como se conta em anedotas e textos de sites brasileiros para se partilhar no facebook - pelo menos, não sentia mais do que no resto dos dias. Para mim, até fazer 20 anos, a TPM era outro mito urbano inventado ou por homens ou por alguma mulher que precisava de uma desculpa para andar sempre de trombas.
Verdade seja dita que me cheguei a sentir mal quando ouvia amigas minhas a dizer que sofriam imenso com a TPM e eu nunca ter sentido nada de especial ou de diferente que me valesse uma opinião dessas. Achei até que tinha algo de errado porque também queria dizer "ai sim, ninguém me atura na semana antes da menstruação!", mas se o dissesse estaria a mentir. Não sei porquê, mas achei que aquela conversa que eu ouvi resultou das duas quererem dizer que é bué giro ter TPM, independentemente de terem ou não. Não, amigas. N-Ã-O. Nãonãonão. #NãoÉNadaGiro e muito menos "crescido" gabar-se de tal. Porquê? Por causa de outra conversa, aquela que em que fui eu a protagonista.
Aconteceu no sábado passado, com o meu Rapaz. Não me perguntem porquê - ou perguntem, pelo post já devem saber a resposta -, mas estava ainda mais sensível do que num dia normal. Fiquei toda triste basicamente por o meu Rapaz não ser um histérico como eu e não ficar aos saltos por causa de algo com que eu fiquei. Só queria abraços. Ele perguntava-me o que se passava e eu, com cara de monga, "nada amor, não se passa mesmo nada" e na realidade eu não lhe estava a mentir. Eu sabia perfeitamente que não tinha razão nenhuma para estar assim, mas estava.
Depois pus-me no lugar dele e pensei no quanto eu iria bater com a cabeça se o visse a ele, com ar de que todos lhe devem e ninguém lhe paga e quando lhe perguntasse o que se passava ele dizia que estava tudo bem. Eu ia automaticamente pensar que havia ali algo que ele não me estaria a dizer. Por isso, por estas e por outras, a TPM NÃO É FIXE. Em ninguém! Mas como só nós é que o temos, isso não se torna automaticamente uma dádiva de Deus.
Adoro-nos, mas não é o facto de "sangrarmos todos os meses" - e tudo o que isso envolve, como a TPM - que somos seres sobrenaturais com capacidades incríveis. A única capacidade incrível que temos quando estamos com a TMP é a de sermos umas macambúzias sem justificação. Parvas, até. O meu Rapaz chamou à TPM "Teu Periodo de Merda" e eu não poderia concordar mais.
TPM é (Sinónimo de) Carmezim.
Marta.